Eu fico repetindo a mim mesmo
que tenho que estar aberto
ser sereno
paciente
e otimista
e eu não quero vir aqui pra reclamar
eu estou fazendo um desenho
e eu vou esperar e estar preparado
pra quando ele acontecer
eu vou segurar a mão dela devagar
e ela vai sorrir um sorriso suspirado pra mim
e o silêncio vai nos envolver
de uma maneira boa
e o seu nome será
sossego
e eu sempre vou ter alguém com quem conversar
no domingo a noite
e ela vai me dar bom dia
todos os dias
para o resto da minha vida
e eu sei
haverão momentos de tédio
e aquelas brigas terríveis
com lágrimas de raiva
mas também haverão
dez vezes mais
noites de intenso gozo
e longas tarde de suspiros mornos
e vamos falar falar
e vamos ouvir ouvir
e vamos nos importar
nos conectar
sermos inseparáveis
e imbatíveis
e nossos projetos
serão sempre pensados
a dois
eu estou pronto
já escrevo poemas ruins e bregas
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
A Leopard doesn't change it's spots
"Estar ajustado a um mundo doente
não pode ser sintoma de saúde."
Eu que tenho andado, por essa cidade antiga
que finalmente atravessei para o outro lado
a segunda parte
o ano com dois invernos
estou aqui encarando meus velhos fantasmas
com um sorriso confiante no rosto
eu já sei quem eu sou
e eu já sei o que eu quero
e quando o mundo me der novamente
o que eu mereço
eu estarei pronto
e eu vou conseguir pelo menos um quartinho
com um amor bem quentinho
e eu vou rodar com ela
rodar rodar
e rir e rir
e gozar
o eterno porvir
e vou me abrir
e ela vai me entender
vou me desequilibrar
e ela não vai me deixar cair
e quando ela bambear
vou vestir minha máscara de fortaleza
e vou ser um refúgio pra ela
sempre confiável
e nós vamos de mãos dadas
olhar adiante
e ver o mundo como algo
que pode ser conquistado
e vamos construir juntinhos
a cada palha
um ninho pra nós
e ali
nosso filhote vai crescer
e com um riso gigante
vovó vai segurar
esse neném no colo
e eu vou rir
e vou chorar
porque depois de um longo interstício
finalmente estou indo pra lá
Um dia eu vou chorar (2)
Um dia eu vou chorar
Mas vai ser de alívio
E essa tristeza caudalosa
Represada
Vai jorrar num choro de riso largo
E eu vou dizer
Enfim
Sou feliz
Enfim sou eu mesmo
E finalmente sou visto
Como o que eu
Sou
Você sempre foi boa em desvendar mistérios
Então mate mais essa charada
Esse mistério profundo que eu sou
Caleidoscópico
Até pra mim mesmo
[...]
Eu não acreditava mais em mim
Mas agora estou caminhando de novo
E meus passos não oscilam mais
Estou de volta
Em mim mesmo
Sei da minha dor, das minhas cicatrizes
E estou consciente dos meus erros.
Lamento profundamente e
Ainda assim
Alimento
Esperança
A esperança que deposito em mim
Porque porra, eu estou vivo!
E ainda acredito na chance que tenho
De escrever uma história bonita pra mim.
[...]
Um dia eu vou chorar
Esse choro embotado
E destilado em silêncio.
Mas nesse dia, eu quero chorar de alegria
Porque eu estou vivo!
Porra
E eu mereço!
Ser feliz e escutado
Compreendido
Pelo que eu sou
E isso me bastaria
Agora você
Também vive!
E a vida pode ser terrível
Assustadora
E até paralisante às vezes
[...]
Só peço que reconsidere
E me veja
E me perdoe apenas por isso:
Hoje eu não vou chorar
Porque só vou chorar
Quando for de alegria.
Merecemos o mundo
Então vamos nos permitir.
Mas vai ser de alívio
E essa tristeza caudalosa
Represada
Vai jorrar num choro de riso largo
E eu vou dizer
Enfim
Sou feliz
Enfim sou eu mesmo
E finalmente sou visto
Como o que eu
Sou
Você sempre foi boa em desvendar mistérios
Então mate mais essa charada
Esse mistério profundo que eu sou
Caleidoscópico
Até pra mim mesmo
[...]
Eu não acreditava mais em mim
Mas agora estou caminhando de novo
E meus passos não oscilam mais
Estou de volta
Em mim mesmo
Sei da minha dor, das minhas cicatrizes
E estou consciente dos meus erros.
Lamento profundamente e
Ainda assim
Alimento
Esperança
A esperança que deposito em mim
Porque porra, eu estou vivo!
E ainda acredito na chance que tenho
De escrever uma história bonita pra mim.
[...]
Um dia eu vou chorar
Esse choro embotado
E destilado em silêncio.
Mas nesse dia, eu quero chorar de alegria
Porque eu estou vivo!
Porra
E eu mereço!
Ser feliz e escutado
Compreendido
Pelo que eu sou
E isso me bastaria
Agora você
Também vive!
E a vida pode ser terrível
Assustadora
E até paralisante às vezes
[...]
Só peço que reconsidere
E me veja
E me perdoe apenas por isso:
Hoje eu não vou chorar
Porque só vou chorar
Quando for de alegria.
Merecemos o mundo
Então vamos nos permitir.
sexta-feira, 21 de setembro de 2018
Garota feita de nuvem
Namoro uma garota
que vive no brilho dos meus olhos
no molhado da cerveja
e na fumaça do cigarro que sobe devagarinho
pra virar nuvem
e ela é todinha feita de nuvem
vapor e névoa
vivendo no brilho dos meus olhos
sempre além do alcance
dos meus dois braços
mesmo quando me estico bem
nunca a toco
mas ela me visita nos sonhos
hoje eu sonhava em minha cama
e ela lá estava
toda nua
e me deu um beijo molhado
no molhado dessa cerveja que eu to tomando
com ela
agora
na minha imaginação
que é tão pura e linda
quanto ela
que namoro em segredo
já faz um giro inteiro
e eu to tomando
conta
desse meu namoro
que é só meu
e talvez exista um lugar
lá do lado de lá
quando eu cruzar as nuvens noturnas
e pousar do outro lado do oceano
onde meus lábios molhados de cerveja
toquem os dela
como que revivendo uma memória feita de carne e osso
num lugar onde todos os sonhos
já se tornam realidade
que vive no brilho dos meus olhos
no molhado da cerveja
e na fumaça do cigarro que sobe devagarinho
pra virar nuvem
e ela é todinha feita de nuvem
vapor e névoa
vivendo no brilho dos meus olhos
sempre além do alcance
dos meus dois braços
mesmo quando me estico bem
nunca a toco
mas ela me visita nos sonhos
hoje eu sonhava em minha cama
e ela lá estava
toda nua
e me deu um beijo molhado
no molhado dessa cerveja que eu to tomando
com ela
agora
na minha imaginação
que é tão pura e linda
quanto ela
que namoro em segredo
já faz um giro inteiro
e eu to tomando
conta
desse meu namoro
que é só meu
e talvez exista um lugar
lá do lado de lá
quando eu cruzar as nuvens noturnas
e pousar do outro lado do oceano
onde meus lábios molhados de cerveja
toquem os dela
como que revivendo uma memória feita de carne e osso
num lugar onde todos os sonhos
já se tornam realidade
terça-feira, 7 de agosto de 2018
Lábios de hidromel
Se você me desse um sorriso
eu seria o mais feliz dos mortais
se você me desse um beijo
eu me juntaria aos deuses
em seus prazeres imorais
seria uma extravagância prazerosa
deita em seus lábios de hidromel
16/07/2018
eu seria o mais feliz dos mortais
se você me desse um beijo
eu me juntaria aos deuses
em seus prazeres imorais
seria uma extravagância prazerosa
deita em seus lábios de hidromel
16/07/2018
Hoje converso com fantasmas
Um cara querido
morreu
o cigarro o matou
hoje acendi meu cigarro
e conversei com ele
em seus olhos avermelhados
senti suas dores
e compartilhei delas
somente eu e ele
seu fantasma sentou ao meu lado
enquanto a vitrola tocava um blues
hoje fui prum buteco
e o bêbado transtornado
pediu um trocado para um trago
e eu tomei com ele
o choro da memória da cadeia
era o meu choro
seus passos embaralhados
exitantes e incertos
rumo a uma casa que não chama de lar
eram os meus passos
no caminho de volta
morreu
o cigarro o matou
hoje acendi meu cigarro
e conversei com ele
em seus olhos avermelhados
senti suas dores
e compartilhei delas
somente eu e ele
seu fantasma sentou ao meu lado
enquanto a vitrola tocava um blues
hoje fui prum buteco
e o bêbado transtornado
pediu um trocado para um trago
e eu tomei com ele
o choro da memória da cadeia
era o meu choro
seus passos embaralhados
exitantes e incertos
rumo a uma casa que não chama de lar
eram os meus passos
no caminho de volta
As músicas de amor já não me dizem nada
As músicas de amor
já não me dizem nada
Não existem exceções
somente ilusões
breves
e que machucam
e que nos fazem desistir
talvez outrora
por um fanatismo bonito
ou por uma falta de opção
enriquecedora
Houvesse amor verdadeiro
Hoje não
hoje o esclarecimento
mostra quem as pessoas são
Sempre falsas
até consigo mesmas
e a evolução
nos levou prum lugar vazio
solitário
frio
individualista
e essa é a nova onda do futuro!
vamos consumir pessoas
sexo fast food
esquecer e continuar
sempre sempre sempre
consumindo tudo
com olhos arregalados
e sorrisos falsos
parecemos estar bem
então acho que estamos bem
afinal
a vida é isso mesmo
o novo século é como sempre foi!
isso é nossa natureza
pulando de galho em galho
não aturando a neura dos outros
nem as nossas
não perdoando jamais
exceto a nós mesmos
viva!
o novo século chegou
na luz de neon
e no vapor das drogas
e nos sabor do álcool
pq sem uma cachaça
não dá pra suportar essa desgraça
o que queremos?
ganhar dinheiro
o que podemos?
o mundo é assim mesmo
e alguns românticos
se dizem os páreas
a contra cultura
um elitismo hipócrita
que me enoja as vezes
e vivem as mesmas tragédias
que todo resto
o humano agora é isso
o resto
de um consumismo industrial
onde tudo é descartável
tudo é resto
os dinossauros estão vivos!
com seus olhos reptilianos cruéis
são gigantes
que vagam entre as gentes
e os admiramos e queremos talvez ser como eles
e esbarram em tudo
como elefantes em uma loja de porcelanas
e o lixo triturado no chão
somos nós
já não me dizem nada
Não existem exceções
somente ilusões
breves
e que machucam
e que nos fazem desistir
talvez outrora
por um fanatismo bonito
ou por uma falta de opção
enriquecedora
Houvesse amor verdadeiro
Hoje não
hoje o esclarecimento
mostra quem as pessoas são
Sempre falsas
até consigo mesmas
e a evolução
nos levou prum lugar vazio
solitário
frio
individualista
e essa é a nova onda do futuro!
vamos consumir pessoas
sexo fast food
esquecer e continuar
sempre sempre sempre
consumindo tudo
com olhos arregalados
e sorrisos falsos
parecemos estar bem
então acho que estamos bem
afinal
a vida é isso mesmo
o novo século é como sempre foi!
isso é nossa natureza
pulando de galho em galho
não aturando a neura dos outros
nem as nossas
não perdoando jamais
exceto a nós mesmos
viva!
o novo século chegou
na luz de neon
e no vapor das drogas
e nos sabor do álcool
pq sem uma cachaça
não dá pra suportar essa desgraça
o que queremos?
ganhar dinheiro
o que podemos?
o mundo é assim mesmo
e alguns românticos
se dizem os páreas
a contra cultura
um elitismo hipócrita
que me enoja as vezes
e vivem as mesmas tragédias
que todo resto
o humano agora é isso
o resto
de um consumismo industrial
onde tudo é descartável
tudo é resto
os dinossauros estão vivos!
com seus olhos reptilianos cruéis
são gigantes
que vagam entre as gentes
e os admiramos e queremos talvez ser como eles
e esbarram em tudo
como elefantes em uma loja de porcelanas
e o lixo triturado no chão
somos nós
As pedras e os galhos no chão
Meus pés doloridos
pisam as pedras e os galhos no chão
encontram alívio num riacho frio
enquanto caminho longamente
à esmo
As pessoas
como eu mesmo
sempre tão egoístas e hipócritas
me empurram pra longe
e pra longe eu vou
sem saber o que encontrar
além da distância de vocês
Para além da fronteira da solidão
existe um silêncio que clareia a mente
e ver tudo de fora
te dá uma perspectiva nova também
Fui mal interpretado tantas vezes
que tenho até medo de falar
Eu vejo o caminho do mundo
e ele me assusta
E eu não quero
participar dele
E eu vejo o que as pessoas querem
e eu sei que isso eu não quero
Mas eu também não sei
o que eu quero
além da distância de vocês
Os meus olhos tem fome
de devorar o mundo
e o riso solitário, tem um féu amargo
mas é menos amargo
do que a ironia de uma falsa amizade
e assim
solitário crônico
eu pretendo ir
Meus pés doloridos
tocam as pedras e os galhos no chão
pisam as pedras e os galhos no chão
encontram alívio num riacho frio
enquanto caminho longamente
à esmo
As pessoas
como eu mesmo
sempre tão egoístas e hipócritas
me empurram pra longe
e pra longe eu vou
sem saber o que encontrar
além da distância de vocês
Para além da fronteira da solidão
existe um silêncio que clareia a mente
e ver tudo de fora
te dá uma perspectiva nova também
Fui mal interpretado tantas vezes
que tenho até medo de falar
Eu vejo o caminho do mundo
e ele me assusta
E eu não quero
participar dele
E eu vejo o que as pessoas querem
e eu sei que isso eu não quero
Mas eu também não sei
o que eu quero
além da distância de vocês
Os meus olhos tem fome
de devorar o mundo
e o riso solitário, tem um féu amargo
mas é menos amargo
do que a ironia de uma falsa amizade
e assim
solitário crônico
eu pretendo ir
Meus pés doloridos
tocam as pedras e os galhos no chão
domingo, 8 de julho de 2018
Penetrando a membrana do mundo
Eu
tão pequenininho
estou posto diante
da pulsante
membrana do mundo
é uma parede escura
fibrosa
por vezes rubra
com estrondos inaudíveis
olho em volta
e estou só
o frio e a solidão
me paralisam
estico minha mão
e toco os dedos na membrana morna
sabendo que do outro lado
está talvez
aquilo que preciso
mas quando digo preciso
talvez você não entenda
o quanto isso me é vital
porque aqui estou no limbo
tenho pertença, tenho amigos, família
lugares de saudade permanente
mas não estou realmente vivo
e nem me lembro a última vez
que por benção do Fora
ou por inocência
me senti pleno por mais de uma noite
mas socar a membrana não parece ser o bastante
agora busco qualquer prana
qualquer energia da vida e do mundo
que me faça dar uma guinada pra frente
acertando a membrana do mundo
com a minha cara
com o meu peito aberto
e na dor de nascer de novo
eu atravesse
atordoado
para o outro lado
até que caia, espremido e nu
do outro lado
e abra meus olhos
como se fosse a primeira vez
para quem sabe assim
talvez
conseguir renascer
mas em esperança simbólica
na solidão
eu choro sozinho
encarando a membrana do mundo
sem saber como ter forças
para atravessá-la
tão pequenininho
estou posto diante
da pulsante
membrana do mundo
é uma parede escura
fibrosa
por vezes rubra
com estrondos inaudíveis
olho em volta
e estou só
o frio e a solidão
me paralisam
estico minha mão
e toco os dedos na membrana morna
sabendo que do outro lado
está talvez
aquilo que preciso
mas quando digo preciso
talvez você não entenda
o quanto isso me é vital
porque aqui estou no limbo
tenho pertença, tenho amigos, família
lugares de saudade permanente
mas não estou realmente vivo
e nem me lembro a última vez
que por benção do Fora
ou por inocência
me senti pleno por mais de uma noite
mas socar a membrana não parece ser o bastante
agora busco qualquer prana
qualquer energia da vida e do mundo
que me faça dar uma guinada pra frente
acertando a membrana do mundo
com a minha cara
com o meu peito aberto
e na dor de nascer de novo
eu atravesse
atordoado
para o outro lado
até que caia, espremido e nu
do outro lado
e abra meus olhos
como se fosse a primeira vez
para quem sabe assim
talvez
conseguir renascer
mas em esperança simbólica
na solidão
eu choro sozinho
encarando a membrana do mundo
sem saber como ter forças
para atravessá-la
quinta-feira, 5 de julho de 2018
O furacão chegou
Todos os furacões tem nomes de mulher
e esse me veio como uma lufada violenta
de perfume e luz
nauseadas de amor
minhas pernas balançaram
ergui a cabeça
antes sempre voltada pra baixo
tão triste
e eu gritei
mas não fui ouvido
Em seu rastro nem as árvores altas resistiram
e minha rotina
tão maçante
foi aniquilada junto
Agora nessa paisagem arrasada
eu vi que talvez tenha chegado a hora de partir
Queria mesmo
viver esses momentos bobos
despretensiosos
de choro e riso fácil
Mas nada na minha vida parece ter sido fácil
certamente pelo que eu sou
mas também porque o mundo não parece se importar
com justiça, afinal
E alguma coisa em mim mudou
O que eu era acenou
Pro lobo solitário que me tornei
Mostrando que o passado foi cheio de coisas bonitas
de que reluto em admitir, tenho saudade
Talvez seja mesmo a hora
de botar a trouxa de roupas no ombro
e caminhar em direção àquele sonho difícil
escalar algumas montanhas
atravessar o mar
e tentar
me refazer
em algum lugar diferente e bonito
Só peço aos deuses
que essa resiliência que construí
seja suficiente pra sobreviver
sem ajuda de ninguém
sem amigos
sem amores
sem governos
porque o que eu quero é me jogar no mundo
e viver lá fora
nu e vazio
como eu tenho me arrastado aqui
e quem sabe o destino
não tenha me pregado essas peças
me preparando pro que reserva pra mim
gostaria de saber
se meu pai
lá do alto
que me acompanha sempre no coração
poderia fazer, como sempre fez,
qualquer coisa pra me ajudar
mas eu não sei
e sem saber eu vou
e sem saber eu voo
e esse me veio como uma lufada violenta
de perfume e luz
nauseadas de amor
minhas pernas balançaram
ergui a cabeça
antes sempre voltada pra baixo
tão triste
e eu gritei
mas não fui ouvido
Em seu rastro nem as árvores altas resistiram
e minha rotina
tão maçante
foi aniquilada junto
Agora nessa paisagem arrasada
eu vi que talvez tenha chegado a hora de partir
Queria mesmo
viver esses momentos bobos
despretensiosos
de choro e riso fácil
Mas nada na minha vida parece ter sido fácil
certamente pelo que eu sou
mas também porque o mundo não parece se importar
com justiça, afinal
E alguma coisa em mim mudou
O que eu era acenou
Pro lobo solitário que me tornei
Mostrando que o passado foi cheio de coisas bonitas
de que reluto em admitir, tenho saudade
Talvez seja mesmo a hora
de botar a trouxa de roupas no ombro
e caminhar em direção àquele sonho difícil
escalar algumas montanhas
atravessar o mar
e tentar
me refazer
em algum lugar diferente e bonito
Só peço aos deuses
que essa resiliência que construí
seja suficiente pra sobreviver
sem ajuda de ninguém
sem amigos
sem amores
sem governos
porque o que eu quero é me jogar no mundo
e viver lá fora
nu e vazio
como eu tenho me arrastado aqui
e quem sabe o destino
não tenha me pregado essas peças
me preparando pro que reserva pra mim
gostaria de saber
se meu pai
lá do alto
que me acompanha sempre no coração
poderia fazer, como sempre fez,
qualquer coisa pra me ajudar
mas eu não sei
e sem saber eu vou
e sem saber eu voo
quinta-feira, 28 de junho de 2018
por favor
alguém me acorde
alguém me sacuda
de tempos em tempos
numa batida forte
um lampejo de luz
aquele sorriso luminoso
se colocando entre eu e o mar
não quis ficar
mas eu tenho que me aprumar
queria escrever um poema bonito
até pensei em alguns
mas estou muito triste pra isso
acho que esse isolamento
e esses lugares fedorentos
me deixaram fora de órbita
talvez por tempo demais
acho que chegou mesmo a hora
de caminhar devagarinho pra fora
quem sabe eu não tenho sorte
e ainda um restolho de virtude
que me permitam ser feliz?
alguém me acorde
alguém me sacuda
de tempos em tempos
numa batida forte
um lampejo de luz
aquele sorriso luminoso
se colocando entre eu e o mar
não quis ficar
mas eu tenho que me aprumar
queria escrever um poema bonito
até pensei em alguns
mas estou muito triste pra isso
acho que esse isolamento
e esses lugares fedorentos
me deixaram fora de órbita
talvez por tempo demais
acho que chegou mesmo a hora
de caminhar devagarinho pra fora
quem sabe eu não tenho sorte
e ainda um restolho de virtude
que me permitam ser feliz?
sexta-feira, 1 de junho de 2018
Trancafiado
Com dedos de aço
Enfiei minha mão inteira na boca
e torci minha língua
arranquei seu nome dela
com unhas afiadas
peguei uma navalha
e furei os olhos que te viam em tudo
cortei fora as duas orelhas
que queriam ouvir sobre você
se eu não respirar
você não pode mais
me roubar suspiros
se eu nunca mais dormir
não vou mais sonhar
trancafiado em pesado cofre
esse assombroso segredo
foi lançado ao mais profundo oceano
corri léguas e léguas
com o diabo em meus calcanhares
e ninguém mais sabe
porque estou sozinho em casa
esperando o tempo correr
ou porque evito certos lugares
e faço planos pra partir
e nunca mais voltar
há de raiar um dia
em que fingindo ter esquecido
eu o terei realmente
e aquele nascituro
vai começar a andar
balbuciar novas palavras
fazendo movimentos familiares
e eu que fui gestado no horror de mim mesmo
não serei senão o contrário
do que fui
e que era o contrário
do que já havia sido
e olhar o mundo com novos olhos vai doer a princípio
mas eu vou deixar a luz entrar
e o som me invadir
e eu vou cair pra levantar com joelhos ralados
rir chorar e novamente
novamente desejar
quando eles verem
eu terei partido
sem levar nada comigo
e noutro lugar
estarei renascido.
Enfiei minha mão inteira na boca
e torci minha língua
arranquei seu nome dela
com unhas afiadas
peguei uma navalha
e furei os olhos que te viam em tudo
cortei fora as duas orelhas
que queriam ouvir sobre você
se eu não respirar
você não pode mais
me roubar suspiros
se eu nunca mais dormir
não vou mais sonhar
trancafiado em pesado cofre
esse assombroso segredo
foi lançado ao mais profundo oceano
corri léguas e léguas
com o diabo em meus calcanhares
e ninguém mais sabe
porque estou sozinho em casa
esperando o tempo correr
ou porque evito certos lugares
e faço planos pra partir
e nunca mais voltar
há de raiar um dia
em que fingindo ter esquecido
eu o terei realmente
e aquele nascituro
vai começar a andar
balbuciar novas palavras
fazendo movimentos familiares
e eu que fui gestado no horror de mim mesmo
não serei senão o contrário
do que fui
e que era o contrário
do que já havia sido
e olhar o mundo com novos olhos vai doer a princípio
mas eu vou deixar a luz entrar
e o som me invadir
e eu vou cair pra levantar com joelhos ralados
rir chorar e novamente
novamente desejar
quando eles verem
eu terei partido
sem levar nada comigo
e noutro lugar
estarei renascido.
quinta-feira, 24 de maio de 2018
terça-feira, 15 de maio de 2018
O amor é uma doença
Eu tenho medo do dia
em que não vou conseguir resistir à tentação
e ligar pra ela
só pra receber mais um espinho no coração
acordei de um sonho com ela
e voltei a dormir
só pra sonhar outro
essa fixação não seria patológica?
não seria o "amor" uma doença?
a obsessão não merece os tratamentos mais modernos?
Ou até mesmo,
quem sabe
um exorcismo à moda antiga?
Eu
recorro ao tempo
senhor e transformador de tudo
se a Ele não resistem as estrelas do firmamento
como resistiria essa memória de você?
ainda que eu levasse esse amor comigo
para o túmulo
não teria se passado mais que uma fração da eternidade
hoje eu vim aqui
escrevi para você
num lugar em que ninguém vai me ler
hoje eu resisti
e pendurei mais um poema no móbile
reli uns antigos
tomei um café
acendi um cigarro
e ninguém além de mim mesmo foi testemunha
das minhas angústias, da minha solidão, daqueles dois sonhos bons.
Já posso vestir o sorriso.
em que não vou conseguir resistir à tentação
e ligar pra ela
só pra receber mais um espinho no coração
acordei de um sonho com ela
e voltei a dormir
só pra sonhar outro
essa fixação não seria patológica?
não seria o "amor" uma doença?
a obsessão não merece os tratamentos mais modernos?
Ou até mesmo,
quem sabe
um exorcismo à moda antiga?
Eu
recorro ao tempo
senhor e transformador de tudo
se a Ele não resistem as estrelas do firmamento
como resistiria essa memória de você?
ainda que eu levasse esse amor comigo
para o túmulo
não teria se passado mais que uma fração da eternidade
hoje eu vim aqui
escrevi para você
num lugar em que ninguém vai me ler
hoje eu resisti
e pendurei mais um poema no móbile
reli uns antigos
tomei um café
acendi um cigarro
e ninguém além de mim mesmo foi testemunha
das minhas angústias, da minha solidão, daqueles dois sonhos bons.
Já posso vestir o sorriso.
terça-feira, 8 de maio de 2018
O amor que não exige ou o amor impossível
"E o amor, em vez de dar, exige."
"O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos [...]"
Eu sentei aqui
enauseado
mas já não consigo vomitar
as palavras não entram em fila
para serem despejadas aqui
elas jorram de um lado pra outro
dentro da minha cabeça
colidindo antes de nascer
o amor é um querer bem
o amor é um querer estar bem
o amor não exige nada
mas exige tudo também
a pessoa amada e o sentimento que emanamos dela
são a mesma coisa
a idealização que fazemos de uma pessoa
e sua carne
são a mesma coisa
quem ama só tem olhos pra pessoa
mas quem ama é cego também
amar é tanto odiar
quanto querer bem
o amor liberta
o amor aprisiona
o amor dá uma razão e tira a razão
acalma e perturba
sossega e tira do sério
Quando realizamos o amor
nos sentimos completos
mas diminuídos pelo amor realizado
nos sentimos incompletos
o amor é uma ficção e a única realidade de quem ama
o amor é um jardim e uma flor
uma montanha e um abismo
um sol e uma lua
o quente o frio
suspiro choro
beijo e lágrima
razão loucura
e minha cabeça dá voltas e dá voltas
e eu não sei que porra é essa
que me dá vontade de gritar e me cala
ela mora no meu olho
ela é o meu ar
o que posso exigir dela?
o que posso merecer?
o que eu posso afinal, fazer?
talvez o amor mais puro, é o que nunca se manifesta
permanece sempre silenciado e intocado
e dessa forma
em não se realizar
e morar nos sonhos
ele jamais fracassa
e a sua generosidade em prazer
jamais humilha
e a sua presença esmagadora
jamais abandona
você não me faz chorar
se não me faz sorrir
você não vai me abandonar
se nunca estiver aqui
pronto, já está resolvido
o verdadeiro amor é o que só aconteceu no sonho
Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece...
-Clarice Lispector
O amor é uma companhia.
O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se não a vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se não a vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
-Fernando Pessoa
quarta-feira, 25 de abril de 2018
Muad'Dib de Duna
Penso na alegria que é estar vivo e imagino se jamais conseguirei mergulhar interiormente até as raízes desta carne para me conhecer tal como um dia fui. As raízes então lá. Ainda que em momento algum eu seja capaz de encontrá-las, elas permanecem fincadas no futuro. Mas todas as coisas que um homem pode fazer são minhas. Qualquer ato meu pode fazê-lo.
-Frank Herbert.
Os Dois Infinitos
Duas coisas enchem a alma de admiração e de respeito sempre renovados e que aumentam à medida que o pensamento mais vezes se concentra nelas: acima de nós, o céu estrelado; no nosso íntimo, a lei moral. Não é necessário buscá-las e adivinhá-las como se estivessem ofuscadas por nuvens ou situadas em região inacessível, para além do meu horizonte; vejo-as ante mim e relaciono-as imediatamente com a consciência da minha existência. A primeira, a partir do lugar que ocupo no mundo exterior, estende a relação do meu ser com as coisas sensíveis a todo esse imenso espaço onde os mundos se sucedem aos mundos e os sistemas aos sistemas e a toda a duração ilimitada dos seus movimentos periódicos. A segunda parte do meu invisível eu, da minha personalidade e do meu posto num mundo que possui a verdadeira infinitude, mas no qual o entendimento mal pode penetrar e ao qual reconheço estar vinculado por uma relação não apenas contingente, mas universal e necessária (relação que também alargo a todos esses mundos visíveis). Numa, a visão de uma infinidade de mundos quase aniquila a minha importância, na medida em que me considero uma criatura animal que, depois de ter (não se sabe como) gozado a vida durante um breve lapso de tempo, deve devolver a matéria de que é formada ao planeta em que vive e que não é mais do que um ponto no universo. Pelo contrário, a outra ergue infinitamente o meu valor como inteligência, mediante a minha personalidade, na qual a lei moral me revela uma vida independente da animalidade e até de todo o mundo sensível, pelo menos na medida em que podemos julgá-lo pelo destino que esta lei consigna à minha existência, e que, em vez de ser limitada às condições e aos limites desta vida, se alarga até ao infinito.
Emmanuel Kant, in 'Crítica da Razão Prática'
Emmanuel Kant, in 'Crítica da Razão Prática'
Eu
Duas coisas enchem a alma de admiração e de respeito sempre renovados e que aumentam à medida que o pensamento mais vezes se concentra nelas: acima de nós, o céu estrelado; no nosso íntimo, a lei moral. Não é necessário buscá-las e adivinhá-las como se estivessem ofuscadas por nuvens ou situadas em região inacessível, para além do meu horizonte; vejo-as ante mim e relaciono-as imediatamente com a consciência da minha existência.
-Kant
desloco meu pensamento pra cada fibra
do que chamo de corpo
e tento escrutinar cada parte
desse cérebro intricado
pensando até sobre a origem desses pensamentos
quantos neurônios?
quantos impulsos elétricos?
quantas células?
quantos hormônios
decidem por mim
no que é que eu penso
minha mente me parece um mar tormentoso
navego somente sua superfície
das profundezas vem os desejos
assaltam-me os impulsos todos
as decisões na verdade
me vem prontas
embora por vezes custe a admiti-las
e assim eu sigo
como uma nuvem sobre esse mar revolto
e o homem que sofre as consequências
não parece por vezes o mesmo
que agiu conforme os desejos
e dentro de mim mora o homem de ontem
e suas raízes profundas se estendem
até o homem de amanhã
nesses padrões eu repito
o que eu aprendi de ancestrais remotos
talvez gravados nas raízes que germinaram aqui agora
talvez passados em cada gesto dos meus pais
e dos meus muitos mentores
essa confluência caudalosa
jorra pela janela do meu ser
e assim me pareço
cada vez mais
como uma ficção que esse Ser conta a si mesmo
mais me valeria talvez
acreditar em espíritos
duelando pela minha suposta alma imortal
mas a carne destituída de mística
não me é menos misteriosa
pelo contrário
o mistério se aprofunda
quando visito salões em mim
que não deveria escrutinar
e nessa tempestade
o que existe dentro de mim
não parece menos irreal
do que o que existe fora
por vezes a luz me engana
os sonos e os cheiros me trazem memórias
que se impõem ao que vem do Fora
e a maneira como percebo
parece mais criadora
do que a natureza inata
das coisas que afinal percebo
tento me fechar
me negar
me deixar esquecer
e tentar somente
perceber
como alguém que não agita as águas do próprio destino
mas que antes
se deixa levar
constantemente assaltado por ventanias que me arrastam
de um lugar para o outro
o tempo entra no meu mundo
modificando a paisagem
e eu não sei o que sou
acho que simplesmente aconteço
segunda-feira, 23 de abril de 2018
Pesadelo Você
Essa noite
meu amor me visitou
e o sorriso dela é tão doce
quanto o gosto amargo que deixou
E o brilho do seu cabelo é tão lustroso
quanto é escura a noite que se seguiu
E o calor morno que me invadiu
é tão terno
Quanto é terrível a sombra
que após isso me engoliu
Sua presença virou aquele vazio sólido
que me encerrava de todos os lados
quando acordei a certeza me acertou
como um balde frio no peito
em plena noite invernal
ali fiquei
atônito
encolhido
trêmulo
o último homem num mundo de escuridão total sem estrelas
A solidão somada
àquele sentimento de merecimento
me assaltou como fariam os Quatro
mas infelizmente
ainda não estava morto
quantas noites cabem numa noite?
quantos invernos se escondem numa lua crescente de verão
afinal, quando o sol nasce?
está tudo tão quieto
tenho medo de botar os pés no chão
e cair pra fora da cama
naquele espaço entre os mundos
acho mesmo que finalmente o sol se apagou
a lua pálida nem percebeu
observou passiva
enquanto a Terra toda se cobriu
da neblina gélida da evaporada água
tudo está ao contrário
flutuando em suspensão
eu sou uma esfera fosca
rolando rolando no chão
sempre rumo ao centro
e à inanição
meu amor me visitou
e o sorriso dela é tão doce
quanto o gosto amargo que deixou
E o brilho do seu cabelo é tão lustroso
quanto é escura a noite que se seguiu
E o calor morno que me invadiu
é tão terno
Quanto é terrível a sombra
que após isso me engoliu
Sua presença virou aquele vazio sólido
que me encerrava de todos os lados
quando acordei a certeza me acertou
como um balde frio no peito
em plena noite invernal
ali fiquei
atônito
encolhido
trêmulo
o último homem num mundo de escuridão total sem estrelas
A solidão somada
àquele sentimento de merecimento
me assaltou como fariam os Quatro
mas infelizmente
ainda não estava morto
quantas noites cabem numa noite?
quantos invernos se escondem numa lua crescente de verão
afinal, quando o sol nasce?
está tudo tão quieto
tenho medo de botar os pés no chão
e cair pra fora da cama
naquele espaço entre os mundos
acho mesmo que finalmente o sol se apagou
a lua pálida nem percebeu
observou passiva
enquanto a Terra toda se cobriu
da neblina gélida da evaporada água
tudo está ao contrário
flutuando em suspensão
eu sou uma esfera fosca
rolando rolando no chão
sempre rumo ao centro
e à inanição
quarta-feira, 11 de abril de 2018
Quantos somos?
Eu sou a pessoa
Que dá descarga
no banheiro sujo da rodoviária
Já me disseram pra parar
De ser tão bom
Muitos até me chamaram de fofo
Mas tem outras pessoas
Que espalham por aí que sou nojento
Um cafajeste
Algo que envergonharia o demônio
E eu
Sou todas essas pessoas
Sou quem eu acho que sou
E sou tudo que os outros acham também
Inclusive minha mãe
terça-feira, 3 de abril de 2018
Você não pode usar
meu medo pra me manipular
eu encarei a solidão
e engoli ela inteira
Isso só me fez crescer
você sabe?
Fiz as pazes com a morte
no dia em que segurando a mão do meu pai
o vi partir
e o enterrei
com todo carinho e orgulho que um filho pode ter
um dia serei eu
a jazer no caixão
e eu sei dos poucos que lá estarão
pra transmitir todas as minhas histórias
eu não tenho nada
além de mim mesmo
e isso eu não posso perder
Ás vezes eu entrego
flores em formas de poemas
são todos verdade
Eu rabisco as minhas verdades
deixo-as suspensas aqui
como bolhas de sabão
e venho ver suas cores
quando me sinto descolorido
O riso frouxo
vai sempre habitar meu rosto
a curiosidade será sempre meu guia
a imaginação infantil sempre vai florescer aqui
o carinho vai sempre balançar meu corpo
meus pés, cansados, só precisam de um banho de mar
e eu
que já me senti tão feio
encaro o espelho com orgulho
coluna ereta
coração tranquilo
até que minha luz se apague
e eu esteja mais uma vez imune
a toda dor
meu medo pra me manipular
eu encarei a solidão
e engoli ela inteira
Isso só me fez crescer
você sabe?
Fiz as pazes com a morte
no dia em que segurando a mão do meu pai
o vi partir
e o enterrei
com todo carinho e orgulho que um filho pode ter
um dia serei eu
a jazer no caixão
e eu sei dos poucos que lá estarão
pra transmitir todas as minhas histórias
eu não tenho nada
além de mim mesmo
e isso eu não posso perder
Ás vezes eu entrego
flores em formas de poemas
são todos verdade
Eu rabisco as minhas verdades
deixo-as suspensas aqui
como bolhas de sabão
e venho ver suas cores
quando me sinto descolorido
O riso frouxo
vai sempre habitar meu rosto
a curiosidade será sempre meu guia
a imaginação infantil sempre vai florescer aqui
o carinho vai sempre balançar meu corpo
meus pés, cansados, só precisam de um banho de mar
e eu
que já me senti tão feio
encaro o espelho com orgulho
coluna ereta
coração tranquilo
até que minha luz se apague
e eu esteja mais uma vez imune
a toda dor
Chocolate
Já faz um tempo agora
Que provei com espanto
A sua doçura quente
Ardeu enquanto descidas pela minha garganta ressequida
Me enchendo de nova vida
Com renovado prazer
Me perdi em suas curvas
E na seda da tua pele
Eras pra mim natural
Como um casal de feras selvagens
Nos reconhecemos no sorriso feroz
Mas também como o mais humano dos casais
Quisemos bem um ao outro
E nos despimos de todas as máscaras
Com reconhecimento mútuo
E genuína admiração
O tempo correu rápido pra nós
Caudaloso como as águas daquela cachoeira
Nunca te escrevi um verso
Porque sentia que não precisava
O nosso carinho delicado
Sempre me bastou
E foi sempre tudo que precisava
E as pessoas que tentavam se meter entre nós
Nunca alcançaram a distância das nossas peles
Que se tocavam desnudas
Pudesse eu
te tomava nos braços
Como Eros tomou Psiquê
E alçaríamos vertiginoso vôo sobre o mar
Alcançando na distância
Um lugar seguro pra nós dois
Devia eu temer o tempo
Tão diferente pra nós dois
Você na flor da tenra idade
Eu lobo velho
Cheio de cicatrizes
Não consegui confiar em ninguém
Nem mesmo em você
Que se entregou tão completamente
Vi seu sorriso quando entrou no carro
Hoje e há um ano
A luz brincava em seus cabelos cor de chocolate
Vibrando com o sonoro sorriso dos inocentes
E eu
Premiado com tamanha fortuna
Não pude me ver merecedor
Você bem me disse:
Pudesse eu me ver pelos seus olhos
Talvez eu conseguisse me amar também
E confiar
Que o futuro nos guarda lá longe
Na sonhada linha de chegada
Através da qual nossas vidas
Se converteria em eterno riso e eterno gozo
Mas eu não pude ver e ainda não posso
Eu olho para os lugares que eu gostaria de estar
E você não está lá
Talvez esteja um dia
Além do horizonte que hoje eu vislumbro
Teríamos a força, a serenidade
Para gravar no tempo da eternidade
Um de nossos retratos tão lindos?
Eu já não sei me prender
Me agarrar
Sou levado pelo vento
E pelos instintos naturais de quem sobreviveu a rigorosos invernos
Mas aqui estamos hoje
Ainda sem sabermos nos comunicar nesse nível mais elementar
Que dispensa palavras
Presos a esses modelos todos
Que tentam nos engessar
E nos retirar daquele espaço natural
Que desbravamos juntos
Eu não sei para onde agora o vento vai nos levar
A lua está cheia
O ar trás o sal das ondas do mar
E as flores viscenjam
A própria natureza faz amor
E hoje, nesse dia lindo
Você já não está colada em mim
Como gostaria que estivesses
Por isso eu vim aqui
Rabiscar pela primeira vez
o seu nome
Que esteve na minha boca esse ano inteiro
Lorrany
You took me Low
And you got me high
Estás gravada no meu sangue
Como alguém que habitou o meu ser
E que será sempre motivo
Para meus olhos já ressequidos
Brilharem refletindo a lua
Pudesse eu ter essa potência
Para te trazer comigo ou ir contigo
Sem ter medo ou nojo de ninguém
Caminharia naturalmente ao seu lado
Dançando e rindo sob os sóis todos
Mas a vida não nos fez para amar
O amor se realiza como o fogo
Sem deixar nada por onde ele passou
Talvez você não seja o anjo que eu mereço e espero
Mas você é o anjo com que sonhei
Amanhã na luta que mais um dia nos apresentará
Eu posso não estar mais em contato com você
Mas saibas sempre que aqui tens refúgio de alguém que te quer bem
Acima da posse dos amores menores
Esse velho lobo
Ranzinza e impaciente
Tomou-lhe como fêmea
E este homem que se sente mais velho do que é
Um dia quase teve a esperança
Necessária para impor sua vontade
À uma realidade tão cruel
Corre agora minha linda
Com sua cor de chocolate
Sacudida pelo vento
Corre célere de encontro a teu destino
Estando ou não
indo ao meu encontro
Daqui a muitas luas, qualquer coisa que me lembre seu nome
Trará aos meus dentes afiados
A luz do teu sorriso
Que provei com espanto
A sua doçura quente
Ardeu enquanto descidas pela minha garganta ressequida
Me enchendo de nova vida
Com renovado prazer
Me perdi em suas curvas
E na seda da tua pele
Eras pra mim natural
Como um casal de feras selvagens
Nos reconhecemos no sorriso feroz
Mas também como o mais humano dos casais
Quisemos bem um ao outro
E nos despimos de todas as máscaras
Com reconhecimento mútuo
E genuína admiração
O tempo correu rápido pra nós
Caudaloso como as águas daquela cachoeira
Nunca te escrevi um verso
Porque sentia que não precisava
O nosso carinho delicado
Sempre me bastou
E foi sempre tudo que precisava
E as pessoas que tentavam se meter entre nós
Nunca alcançaram a distância das nossas peles
Que se tocavam desnudas
Pudesse eu
te tomava nos braços
Como Eros tomou Psiquê
E alçaríamos vertiginoso vôo sobre o mar
Alcançando na distância
Um lugar seguro pra nós dois
Devia eu temer o tempo
Tão diferente pra nós dois
Você na flor da tenra idade
Eu lobo velho
Cheio de cicatrizes
Não consegui confiar em ninguém
Nem mesmo em você
Que se entregou tão completamente
Vi seu sorriso quando entrou no carro
Hoje e há um ano
A luz brincava em seus cabelos cor de chocolate
Vibrando com o sonoro sorriso dos inocentes
E eu
Premiado com tamanha fortuna
Não pude me ver merecedor
Você bem me disse:
Pudesse eu me ver pelos seus olhos
Talvez eu conseguisse me amar também
E confiar
Que o futuro nos guarda lá longe
Na sonhada linha de chegada
Através da qual nossas vidas
Se converteria em eterno riso e eterno gozo
Mas eu não pude ver e ainda não posso
Eu olho para os lugares que eu gostaria de estar
E você não está lá
Talvez esteja um dia
Além do horizonte que hoje eu vislumbro
Teríamos a força, a serenidade
Para gravar no tempo da eternidade
Um de nossos retratos tão lindos?
Eu já não sei me prender
Me agarrar
Sou levado pelo vento
E pelos instintos naturais de quem sobreviveu a rigorosos invernos
Mas aqui estamos hoje
Ainda sem sabermos nos comunicar nesse nível mais elementar
Que dispensa palavras
Presos a esses modelos todos
Que tentam nos engessar
E nos retirar daquele espaço natural
Que desbravamos juntos
Eu não sei para onde agora o vento vai nos levar
A lua está cheia
O ar trás o sal das ondas do mar
E as flores viscenjam
A própria natureza faz amor
E hoje, nesse dia lindo
Você já não está colada em mim
Como gostaria que estivesses
Por isso eu vim aqui
Rabiscar pela primeira vez
o seu nome
Que esteve na minha boca esse ano inteiro
Lorrany
You took me Low
And you got me high
Estás gravada no meu sangue
Como alguém que habitou o meu ser
E que será sempre motivo
Para meus olhos já ressequidos
Brilharem refletindo a lua
Pudesse eu ter essa potência
Para te trazer comigo ou ir contigo
Sem ter medo ou nojo de ninguém
Caminharia naturalmente ao seu lado
Dançando e rindo sob os sóis todos
Mas a vida não nos fez para amar
O amor se realiza como o fogo
Sem deixar nada por onde ele passou
Talvez você não seja o anjo que eu mereço e espero
Mas você é o anjo com que sonhei
Amanhã na luta que mais um dia nos apresentará
Eu posso não estar mais em contato com você
Mas saibas sempre que aqui tens refúgio de alguém que te quer bem
Acima da posse dos amores menores
Esse velho lobo
Ranzinza e impaciente
Tomou-lhe como fêmea
E este homem que se sente mais velho do que é
Um dia quase teve a esperança
Necessária para impor sua vontade
À uma realidade tão cruel
Corre agora minha linda
Com sua cor de chocolate
Sacudida pelo vento
Corre célere de encontro a teu destino
Estando ou não
indo ao meu encontro
Daqui a muitas luas, qualquer coisa que me lembre seu nome
Trará aos meus dentes afiados
A luz do teu sorriso
terça-feira, 27 de março de 2018
Diógenes
Quem não preferiria
a companhia dos cães?
Quem não viveria
sendo escravo de ninguém
e nem sendo Senhor também?
As leis dos homens
mudam todas as semanas
a lei da natureza entretanto
persiste
o prédio tomba
o vil metal se corrói
o tempo ardiloso tudo destrói
adoramos essas sombras na parede
o amor eterno
o governo justo
o Deus perfeito
mas onde eles estão?
Para onde varremos
o choro
o bile
o sangue
o sêmem?
Onde escondemos nossas vergonhas
e porque o fazemos?
Alguns juntam coisas e mais coisas
outros se empertigam para dizer
eu sou isso
eu sou aquilo
e o que realmente somos?
E o que nós todos
tão falhos e pequenos
podemos realmente ser
ou querer ser?
Qual o próposito que me agita
senão o do animal
que eu sou?
Casamento? Não, obrigado.
Esses títulos todos?
Não, obrigado.
Esse compromisso com o que me despreza
com o que me aprisiona
que depõe contra minha natureza
contra a minha liberdade tão inerente?
Não, obrigado.
Quem se alimenta das nossas ilusões?
Que interesses atendemos quando vamos contra nossa natureza?
Quem foi que nos enganou esse tempo todo e o que ganha com isso?
Eu sou o Cão
"Uma inquebrantável decisão de viver uma vida simples e despojada, uma devoção afincada à autossuficiência, um vínculo sem paralelos com a liberdade de expressão, um desdém saudável pela estupidez e pelo obscurantismo humanos, um nível incomum de lucidez intelectual e, acima de tudo, uma tremenda coragem de viver segundo suas convicções” – Navia, Diógenes o Cínico, p. 18
https:// razaoinadequada.com/ filosofos-essenciais/ diogenes/
a companhia dos cães?
Quem não viveria
sendo escravo de ninguém
e nem sendo Senhor também?
As leis dos homens
mudam todas as semanas
a lei da natureza entretanto
persiste
o prédio tomba
o vil metal se corrói
o tempo ardiloso tudo destrói
adoramos essas sombras na parede
o amor eterno
o governo justo
o Deus perfeito
mas onde eles estão?
Para onde varremos
o choro
o bile
o sangue
o sêmem?
Onde escondemos nossas vergonhas
e porque o fazemos?
Alguns juntam coisas e mais coisas
outros se empertigam para dizer
eu sou isso
eu sou aquilo
e o que realmente somos?
E o que nós todos
tão falhos e pequenos
podemos realmente ser
ou querer ser?
Qual o próposito que me agita
senão o do animal
que eu sou?
Casamento? Não, obrigado.
Esses títulos todos?
Não, obrigado.
Esse compromisso com o que me despreza
com o que me aprisiona
que depõe contra minha natureza
contra a minha liberdade tão inerente?
Não, obrigado.
Quem se alimenta das nossas ilusões?
Que interesses atendemos quando vamos contra nossa natureza?
Quem foi que nos enganou esse tempo todo e o que ganha com isso?
Eu sou o Cão
Diógenes sentado em seu barril cercado por cães.
Pintura de Jean-Léon Gérôme de 1860.
"Uma inquebrantável decisão de viver uma vida simples e despojada, uma devoção afincada à autossuficiência, um vínculo sem paralelos com a liberdade de expressão, um desdém saudável pela estupidez e pelo obscurantismo humanos, um nível incomum de lucidez intelectual e, acima de tudo, uma tremenda coragem de viver segundo suas convicções” – Navia, Diógenes o Cínico, p. 18
https://
domingo, 25 de março de 2018
(H)Ell[en]
olhei soslaio
displicente
e vi o seu brilho
sei que foi de repente
senti as curvas delicadas
nos teus gestos suaves
balancei com seu quadril
meu coração quase se partiu
peguei os caquinhos de vidro coloridos no chão
alguns chamados tristeza
outros chamados paixão
e montei um pequeno mosaico de você
e eu amei o que escolhi ver
e suspirei no seu resfolegar quando nos beijamos
corri o dedo entre seus cabelos
e ali eu me amarrei
como menino sonhador que sou
sonhei sonhei
eu não te ocupei
eu não te dominei
eu não colonizei
eu só suspirei
e sonhei
sonhei
estive ali
vi nós dois na roça, andando na mata
capturando a luz e mostrando ao outro
e a estrada corria veloz debaixo de nós
e nossos amigos já nos conheciam como um
e eu cheguei em casa, pra ver você esparramada
na nossa cama
e eu estava apagado
e você reacendeu essa chama
foi mesmo alucinado
infundado
e rápido demais
Mas essa alucinação me debulhou em sinceras lágrimas
como um cego eu gritei
Eu pude ver!
Eu pude ver!
Com olhos ensopados eu sorri
Eu vi
Eu vi
não olhei pros lados
nem olhei pra trás
só vi a porta encostada e abri
fui lá e voltei
o que eu falei ou escrevi
eu já não sei
o que senti, no entanto, ficou aqui
forte demais
sem tato
agressivo até
desritmado
fora do passo
sem a cadência
você não me ouviu
a ligação caiu
ficou como uma concha cerrada
uma presa assustada
guardou para si a pérola do sorriso
olhou pra trás e fugiu
e já não sei como puxar papo
como recomeçar devagar
talvez seja o momento de esperar
ou partir
respeitar o espaço
ou levantar mesmo a cabeça
e caminhar sem pressa
sabendo que reconquistei a mim mesmo
e gestado um ano inteiro
finalmente renasci
esse sorriso sincero
essa auto estima restaurada
esse interesse genuíno pela vida!
esse otimismo infundado
agora estão aqui
displicente
e vi o seu brilho
sei que foi de repente
senti as curvas delicadas
nos teus gestos suaves
balancei com seu quadril
meu coração quase se partiu
peguei os caquinhos de vidro coloridos no chão
alguns chamados tristeza
outros chamados paixão
e montei um pequeno mosaico de você
e eu amei o que escolhi ver
e suspirei no seu resfolegar quando nos beijamos
corri o dedo entre seus cabelos
e ali eu me amarrei
como menino sonhador que sou
sonhei sonhei
eu não te ocupei
eu não te dominei
eu não colonizei
eu só suspirei
e sonhei
sonhei
estive ali
vi nós dois na roça, andando na mata
capturando a luz e mostrando ao outro
e a estrada corria veloz debaixo de nós
e nossos amigos já nos conheciam como um
e eu cheguei em casa, pra ver você esparramada
na nossa cama
e eu estava apagado
e você reacendeu essa chama
foi mesmo alucinado
infundado
e rápido demais
Mas essa alucinação me debulhou em sinceras lágrimas
como um cego eu gritei
Eu pude ver!
Eu pude ver!
Com olhos ensopados eu sorri
Eu vi
Eu vi
não olhei pros lados
nem olhei pra trás
só vi a porta encostada e abri
fui lá e voltei
o que eu falei ou escrevi
eu já não sei
o que senti, no entanto, ficou aqui
forte demais
sem tato
agressivo até
desritmado
fora do passo
sem a cadência
você não me ouviu
a ligação caiu
ficou como uma concha cerrada
uma presa assustada
guardou para si a pérola do sorriso
olhou pra trás e fugiu
e já não sei como puxar papo
como recomeçar devagar
talvez seja o momento de esperar
ou partir
respeitar o espaço
ou levantar mesmo a cabeça
e caminhar sem pressa
sabendo que reconquistei a mim mesmo
e gestado um ano inteiro
finalmente renasci
esse sorriso sincero
essa auto estima restaurada
esse interesse genuíno pela vida!
esse otimismo infundado
agora estão aqui
domingo, 18 de março de 2018
Uma pessoa são várias pessoas
De manhã sou um
De tarde sou outro
Consistente nas correntezas que me arrastam pra lá e pra cá
Já desisti de pousar
Resolvi voar voar
E quem te deu a verdade?
Como tomou posse desse símbolo poderoso
E como decidiu o que é moral e imoral?
O que te move eu não sei
O que me move
Eu também não sei
Não sabemos nada
Tudo está solto fluído vaporoso
Estamos fazendo só o que podemos
Com o que nos foi dado
Eu particularmente sei
Nunca cometi um ato deliberado de maldade
Sei o que eu sou
A porta aberta que nunca poderá ser fechada
Menino bobo
Astronauta
Poeta secreto
Eterno aspirante a se tornar música
Na vibração intensa dos momentos
Fonte morna que transborda
Riso fácil
Olhos brilhando, tão cansados
Cabeça de nuvem
Eu sou mesmo esse menino
Intenso
Incoerente
E tão amoroso
Eu sei eu sei
Me julgas pelos seus padrões
Eu já não os tenho
Pela vontade eu tento
Ser além do homem
Sempre além
Sempre além
Acho que você podia tentar também
Mas pra te aconselhar eu não sou ninguém
De manhã eu sou triste
A noite feliz
De manhã triste de novo
Ou vice versa
Eu quero
Eu mereço
Eu posso
Eu sou a onda que bate na praia
Sou o vento em meus cabelos
Sou o sol nos meus olhos
Eu sou o fogo
Eu sou o fogo
Sou a luz
Sou a rocha
E esses bichos todos
Tudo que falou sobre mim é verdade
Tudo o que esqueceu também
Não posso mais esconder ou fingir
Já não quero me redimir
As forças da natureza que me trouxeram aqui
Não se importam com nada
De resto só não temos o tempo
Aquele velho cruel
De manhã sou um
De tarde sou outro
Consistente nas correntezas que me arrastam pra lá e pra cá
Já desisti de pousar
Resolvi voar voar
E quem te deu a verdade?
Como tomou posse desse símbolo poderoso
E como decidiu o que é moral e imoral?
O que te move eu não sei
O que me move
Eu também não sei
Não sabemos nada
Tudo está solto fluído vaporoso
Estamos fazendo só o que podemos
Com o que nos foi dado
Eu particularmente sei
Nunca cometi um ato deliberado de maldade
Sei o que eu sou
A porta aberta que nunca poderá ser fechada
Menino bobo
Astronauta
Poeta secreto
Eterno aspirante a se tornar música
Na vibração intensa dos momentos
Fonte morna que transborda
Riso fácil
Olhos brilhando, tão cansados
Cabeça de nuvem
Eu sou mesmo esse menino
Intenso
Incoerente
E tão amoroso
Eu sei eu sei
Me julgas pelos seus padrões
Eu já não os tenho
Pela vontade eu tento
Ser além do homem
Sempre além
Sempre além
Acho que você podia tentar também
Mas pra te aconselhar eu não sou ninguém
De manhã eu sou triste
A noite feliz
De manhã triste de novo
Ou vice versa
Eu quero
Eu mereço
Eu posso
Eu sou a onda que bate na praia
Sou o vento em meus cabelos
Sou o sol nos meus olhos
Eu sou o fogo
Eu sou o fogo
Sou a luz
Sou a rocha
E esses bichos todos
Tudo que falou sobre mim é verdade
Tudo o que esqueceu também
Não posso mais esconder ou fingir
Já não quero me redimir
As forças da natureza que me trouxeram aqui
Não se importam com nada
De resto só não temos o tempo
Aquele velho cruel
segunda-feira, 12 de março de 2018
Sköll
me deram as jóias mais bonitasThe beast in me is caged by frail and fragile bars, restless by day,
and by night rants and rages at the stars.(Johnny Cash)
e eu as devorei
me ofereceram as duas mãos
e comi suas almas
segui o sol
insaciável
e traguei todo seu calor
num sopro displicente
o dia se apagou
e eu exasperado
procurei algo mais
para matar a fome que me enchia de agonia
no escuro eu esperei uma estrela
para que pudesse consumi-la
tive de tudo e não me foi o bastante
e o demônio que eu mais odeio
sou eu mesmo
então eu privei o mundo de mim
hibernei
catatônico
dormente mantive os vidrados olhos arregalados
esperando alguém que aguente toda carga da minha alma pesarosa
ou até que a solidão
tão aguda
apazigue meu espírito inquieto
O fogo ainda é uma brasinha
e eu assopro, assopro ou espero
até que irrompas em chamas
será que eu perdi o tato
ou o perdemos todos?
ainda existe compasso
ainda existe ritmo
ainda sabemos dançar?
Há vontade?
o que está implícito
não está posto para os brutos
as mãos ásperas tem pressa
e não se espera mais o tempo da natureza
estamos conectados em bandas largas onde na correria atropelamos corações
o neon do balanço orgiástico etílico
o sufoco do gelo seco, do rum, do gin, do cigarro
o beijo como brincadeira
o afastamento
o puxão
o constrangimento
o obsceno
aquele calor morno
sem dizer que sim nem que não
este tem sido o ritmo
do meu coração
dancei dancei e sorri
fui triste mais uma noite,
nem vi
terminei sozinho mesmo com alguém ao meu lado
no domingo a noite o gosto amargo
de quem de novo fez tudo errado
já cantei essa canção
essa é minha maldição minha maldição
minha auto imposta maldição
onde achar alguém perfeito? onde se esconde o pomo dourado do eterno desejo?
o bom é mesmo rolar incompleto?
feliz sozinho?
teria alguém a paciência? teria eu mesmo plena consciência?
a estrada
diante de mim
parece tórrida e longa
daquelas que do sertão levam ao mar
debaixo do árido céu
azul profundo
e eu assopro, assopro ou espero
até que irrompas em chamas
será que eu perdi o tato
ou o perdemos todos?
ainda existe compasso
ainda existe ritmo
ainda sabemos dançar?
Há vontade?
não está posto para os brutos
as mãos ásperas tem pressa
e não se espera mais o tempo da natureza
estamos conectados em bandas largas onde na correria atropelamos corações
o neon do balanço orgiástico etílico
o sufoco do gelo seco, do rum, do gin, do cigarro
o beijo como brincadeira
o afastamento
o puxão
o constrangimento
o obsceno
aquele calor morno
sem dizer que sim nem que não
este tem sido o ritmo
do meu coração
dancei dancei e sorri
fui triste mais uma noite,
nem vi
terminei sozinho mesmo com alguém ao meu lado
no domingo a noite o gosto amargo
de quem de novo fez tudo errado
já cantei essa canção
essa é minha maldição minha maldição
minha auto imposta maldição
onde achar alguém perfeito? onde se esconde o pomo dourado do eterno desejo?
o bom é mesmo rolar incompleto?
feliz sozinho?
teria alguém a paciência? teria eu mesmo plena consciência?
a estrada
diante de mim
parece tórrida e longa
daquelas que do sertão levam ao mar
debaixo do árido céu
azul profundo
domingo, 4 de março de 2018
Impressões sobre Ellen ou vamos embora pra Passárgada
Nem todos poemas
tem um nome
Se esse tivesse
Seria o seu
Lembro bem
Daquela noite enevoada e barulhenta
Em que
Enebriado e embriagado
eu te vi
Pela primeira vez
Estava sentada
Imóvel
Lânguida
Tal como uma estátua de mármore carrara
E eu ali num regalo
Já estava pronto para cair a seus pés
Você tinha sua própria luz
E eu era uma mariposa
Você pareceu linda e fatal como o fogo
Que ardia fraco
Nas suas curvas delicadas
Mas na superfície não eras nem morna
Como um vulcão inativo
Que poderia a qualquer momento
Explodir
Se assim resolvesse
Minha alma capturada num instante de clareza
Me fazia sentir
Um perigo de não mais me pertencer
Como num amor longamente esquecido
Que poderia novamente me arrebatar
A paragens lindas e terríveis
Virou-se com elegância
Nem sei se me notou
Ainda bem
Se me oferecesse um sorriso
Cairia a seus pés
Como alguém que faz um trato com o Diabo
E perde a eternidade
Pela ilusão de possuir o mundo
A lascívia e a devassidão em mim
Não poderia jamais alcançá-la
Eu não ousaria te tocar
Mas se o fizesse
Tenho certeza
Eu explodiria numa supernova branca e vermelha
Que dissolveria uma vez mais
Minha individualidade
Numa dança cósmica
Em que a destruição assume aquele aspecto
Tão bonito
Em que as vagas lentidões dos milênios infindáveis
Escondem a força e o calor esmagadores
Da morte das estrelas que consomem umas às outras
E fazem os minúsculos seres de carbono
Evaporar
De sobressalto me mantive distante
E me pus a adorar em segredo
No silêncio respeitoso que se presta
Aos deuses da morte
Quando te vi pela segunda vez
Também não me atrevi a cumprimentá-la
Como poderia eu ser tão insolente
E na conversa esparça
Eu te tornei humana
Vi sua melancolia
E as desesperanças e as fraquezas
Como os delicados anjos condenados
Com que Deus adornou
A cúpula escura do inferno
E seus lamentos agudos
Só poderiam ser ouvidos
Pelas almas penadas que ainda ousam sonhar
E olhar para cima
Presos aos círculos mais baixos
A sua tristeza também era luz
Que me cegava e confundia
Como poderíamos, ser delicados, inteligentes e bons
E ao mesmo tempo
Felizes
E como as palavras num encantamento
Poderiam desfazer esses grilhões todos
Que nos limitam e nos atam
E como o diálogo inesgotável
Poderia nos fazer alcançar
A alma um do outro
Como meus dedos escuros
Poderiam se entrelaçar
Na sua alva mão
E como poderíamos então caminhar
Juntos
Sendo a única esperança e o único refúgio um do outro
Vivendo o único sonho possível
Nesses vales tão escuros
Em que pessoas tão cruéis
Machucam umas às outras
Ignorando também que machucamos
Outras pessoas
Para então simplesmente nos recusar a sermos como eles
A mentir, a abandonar, a não desistir jamais
Pelo menos um do outro
Eu vi sua imagem eu te coloquei um véu de noiva
Vesti o seu dedo com a aliança que jamais perde o brilho
E num instante, vivi até a eternidade ao seu lado
Envelheci naquele segundo
O mundo se apagou e você brilhou.
Eu não sei se esse sonho em algum tempo é real
Ou se sua imagem vai se desvanecer
Como os vapores de que parece ser feita
Ganhando as alturas a que pertence
Para se juntar à luz azulada da lua
De que as alucinações parecem ser feitas
De qualquer modo
Eu que não sou ninguém
Estou aqui guardando
Um pequeno poema com seu nome
Nessa ínfima fração da eternidade
Para te fixar na parede da minha memória
E te erigir um singelo altar
E para dizer
Como um louco!
Que por alguns instantes ao menos
E sem razão
Como sempre é
Que eu também te amei
Me juntei à procissão
Dos poucos homens sensíveis
Que te viu
Que te adorou
E que, digo novamente, te amou.
Existe amor a primeira vista?
Afinal, existe o amor?
Se essas coisas pudessem ser verdade
Mesmo que num sonho besta
Eu te diria
Que não foi às primeira vista
Como no ilusório reencontro de almas antigas
Como nos fados antigos de quando se acreditava no amor
Não foi a primeira vista
Porque naquele vislumbre existiu uma vida inteira
E eu a vivi, com seus encantos e desencantos
Te tomei pela primeira vez
E até caí na rotina
Eu vi tudo
E resolvi aqui registrar
E tudo que posso fazer é me expor
Ao ridículo
Como todo amor é ridículo
Sem muita esperança de te agradar
Sempre disse que escrevo pra mim mesmo
E aqui estão
Como perguntou
Todas as impressões que tive
Quando pela primeira vez te vi
Esse é afinal, um poema para o Diabo.
Dizem que cada um tem
O amor que acha que merece
Eu sou o poeta
Que sem mentir
Ousou sonhar com o impossível.
terça-feira, 20 de fevereiro de 2018
Amor de puta
O amor sempre foi
Coisa de vagabundo
De louco
De puta
De artista
As altas classes nunca souberam
Amar
Porque para lá chegar ou se manter
Não puderam
Amar
O amor perturba
É exigente
O amor é o único mundo
Que quem ama pode ter
E o objetivo único
Que esses delirantes podem querer
O amor da elite só pode ser superficial
O pragmatismo é o desamor
O amor próprio é o contrário do amor
O amor se rasga
O amor se afogar em lágrimas
O amor rasteja
É mil vezes feito de trouxa
O amor acaba com a gente
Nos humilha
Nos aprisiona
Amor é coisa de viciado
De doido mesmo
Desses vagabundos todos
Porque quem ama precisa mesmo ser meio idiota
Quem gostaria de viver
Sem amar?
Coisa de vagabundo
De louco
De puta
De artista
As altas classes nunca souberam
Amar
Porque para lá chegar ou se manter
Não puderam
Amar
O amor perturba
É exigente
O amor é o único mundo
Que quem ama pode ter
E o objetivo único
Que esses delirantes podem querer
O amor da elite só pode ser superficial
O pragmatismo é o desamor
O amor próprio é o contrário do amor
O amor se rasga
O amor se afogar em lágrimas
O amor rasteja
É mil vezes feito de trouxa
O amor acaba com a gente
Nos humilha
Nos aprisiona
Amor é coisa de viciado
De doido mesmo
Desses vagabundos todos
Porque quem ama precisa mesmo ser meio idiota
Quem gostaria de viver
Sem amar?
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018
esperança de nada
Continuo carregando
esses pesados olhos baços
cabeça de nuvem
pé de pá
empapado de suor
no descanso
atravesso os maravilhosos vales oníricos
para me ver sempre
preso naquela caverna
contemplando o rosto
que sempre que desperto
afasto da lembrança
eu queria mesmo
tal como Homero
compor universal canção
sobre meu tempo e minha sina
para que me cantem os bardos do futuro
pelos milênios avante
que menestréis cósmicos
na lonjura das estrelas
conheçam o som do meu nome
e do seu
Mas também não se apagarão as estrelas todas?
Quem podemos então
querer ser?
Existe lembrança sem esquecimento?
Nascimento sem morte
eu quero a morte
eu quero a morte
Não se renasce sem passar pelo fogo
Não se redime sem ser esquecido
Na verdade o que eu quero é o esquecimento
O Nada é um descanso
Afinal, o que é a felicidade sem esquecimento?
O que é o riso, ou o gozo
além do esquecimento da vida
como a lembrança do prazer pueril, há tanto esquecido?
De repente lembrado
logo novamente apagado
Nem Schopenhaur, nem Nietzsche me deram a resposta
Só Pessoa enquanto Caeiro foi feliz
Só foi feliz quem se esqueceu
só se redimiu quem foi esquecido
O heroi vitorioso
no festim lascivo
canta seus hematomas, ferimentos e cicatrizes
só para noutro dia
lidar com a ressaca
e só para o outro ainda
lidar com a vingança
Enquanto suas vitimas
jazem tranquilamente
sendo devoradas pelos abutres
-Ali jaz um homem que descansou, ali não existem dores, contra ele podem pesar mágoas, mas não pesará mais nenhuma vingança!
Dancemos aos mortos, até que nos juntaremos a eles!
Inventemos um Deus que nos apazigue o espírito e nos livre da carne!
Morramos!!!
Sejamos logo esquecidos, já que o seremos inevitavelmente
Vamos apressar nosso destino certo
A espada que cortou a garganta, do feroz e leal soldado
num átimo de agonia, livrou-lhe de toda dor
tombou como inimigo digno
agora descansa em sua cova
até que seja pó
Sejamos pó, também, eu e você
todos que amamos e todos que nos amaram
todos os sorrisos e lágrimas que provocamos um ao outro
Sejamos nada!
Afaste-se daqui
Dê descanso... Oh! bendito esquecimento!!!
Dê morte, dê silêncio
Dê-me trégua
Não quero visitá-la nos pesadelos tenebrosos que me estremecem a madrugada
E também não quero visitá-la no sonho bom
para que eu não acorde desesperado pela sua ausência!
O querem de mim Oneiros
Que sussurras oceano ruidoso do inconsciente!
O que querem de mim os deuses?
Eu teria o prodígio olimpiano
de subir para qualquer lugar que fosse?
Qual dessas montanhas impossíveis
eu deveria escalar?
Para onde eu iria
quem iria me acalentar
Se não me dão a resposta
resignado guardo silêncio
Sem desejar nada
além de ser esquecido.
quantas vezes eu gritei pra ser ouvido?
quantas vezes eu calei
esperando um carinho voluntário
recebendo somente solidão e angústia?
quantas vezes eu me esforcei todo dia
e estraguei tudo, com um erro básico?
de onde vou tirar forças
pra começar do zero
sabendo que hoje ou daqui há alguns anos
um erro colocará abaixo o castelo de cartas
sobre o qual me aninhei?
como seguir o fluxo
o Tao
desse rio perpétuo
sempre cambiante
e ainda assim
agir?
com não cair no marasmo da passividade?
como ter a Vontade para ser Além?
como não querer, como não esperar?
Se não têm a resposta, porque fazem isso comigo?
Não seria melhor
colocar tudo de lado
e simplesmente
esquecer?
como eu poderia
ser visto como tudo que sou
ou ser outra coisa afinal
até que num lampejo luminoso
eu seja visto
eu seja lembrado
e a mão macia do amor e da gratidão
que não seja do etéreo Deus
afague e console
Como suportar, senão no delírio d'Ele
essa enxurrada de mágoas
essa dor nas costas
esta garganta seca
essa lágrima presa
e no leito
no lugar do descanso
o sonho maldito
noite após noite após noite após noite
seu fantasma vingativo me visitando
enquanto sua mente seu coração e seu corpo
visitam outros
(que lhe tenham e façam bem)
Estou preso nessa desventura romântica?
Seria Anansi a tecelã
desse anti-heroi romântico maldito
seria eu o escultor dessa estátua de mármore
como gaulês em eterna agonia?
Afinal, eu gosto de sofrer?
Sofrer não mostra meu amor? Quanto tenho que sofrer mais? De que adiantaria?
Passei suado, pela mesma portaria de quase trinta anos atrás, fedendo e faminto.
Mas eu era melhor que elas, que eles todos!
porque na minha cabeça nascia um poema
desabafei nessa prosa sem vergonha
evocando um panteão de falsos deuses, sem respostas
num monólogo pobre, para platéia alguma
até que eu mesmo me esqueça
até que eu seja esquecido
talvez pelo desejo escondido
da vontade
de ser lembrado
por aqueles que também caminham para o nada
esses pesados olhos baços
cabeça de nuvem
pé de pá
empapado de suor
no descanso
atravesso os maravilhosos vales oníricos
para me ver sempre
preso naquela caverna
contemplando o rosto
que sempre que desperto
afasto da lembrança
eu queria mesmo
tal como Homero
compor universal canção
sobre meu tempo e minha sina
para que me cantem os bardos do futuro
pelos milênios avante
que menestréis cósmicos
na lonjura das estrelas
conheçam o som do meu nome
e do seu
Mas também não se apagarão as estrelas todas?
Quem podemos então
querer ser?
Existe lembrança sem esquecimento?
Nascimento sem morte
eu quero a morte
eu quero a morte
Não se renasce sem passar pelo fogo
Não se redime sem ser esquecido
Na verdade o que eu quero é o esquecimento
O Nada é um descanso
Afinal, o que é a felicidade sem esquecimento?
O que é o riso, ou o gozo
além do esquecimento da vida
como a lembrança do prazer pueril, há tanto esquecido?
De repente lembrado
logo novamente apagado
Nem Schopenhaur, nem Nietzsche me deram a resposta
Só Pessoa enquanto Caeiro foi feliz
Só foi feliz quem se esqueceu
só se redimiu quem foi esquecido
O heroi vitorioso
no festim lascivo
canta seus hematomas, ferimentos e cicatrizes
só para noutro dia
lidar com a ressaca
e só para o outro ainda
lidar com a vingança
Enquanto suas vitimas
jazem tranquilamente
sendo devoradas pelos abutres
-Ali jaz um homem que descansou, ali não existem dores, contra ele podem pesar mágoas, mas não pesará mais nenhuma vingança!
Dancemos aos mortos, até que nos juntaremos a eles!
Inventemos um Deus que nos apazigue o espírito e nos livre da carne!
Morramos!!!
Sejamos logo esquecidos, já que o seremos inevitavelmente
Vamos apressar nosso destino certo
A espada que cortou a garganta, do feroz e leal soldado
num átimo de agonia, livrou-lhe de toda dor
tombou como inimigo digno
agora descansa em sua cova
até que seja pó
Sejamos pó, também, eu e você
todos que amamos e todos que nos amaram
todos os sorrisos e lágrimas que provocamos um ao outro
Sejamos nada!
Afaste-se daqui
Dê descanso... Oh! bendito esquecimento!!!
Dê morte, dê silêncio
Dê-me trégua
Não quero visitá-la nos pesadelos tenebrosos que me estremecem a madrugada
E também não quero visitá-la no sonho bom
para que eu não acorde desesperado pela sua ausência!
O querem de mim Oneiros
Que sussurras oceano ruidoso do inconsciente!
O que querem de mim os deuses?
Eu teria o prodígio olimpiano
de subir para qualquer lugar que fosse?
Qual dessas montanhas impossíveis
eu deveria escalar?
Para onde eu iria
quem iria me acalentar
Se não me dão a resposta
resignado guardo silêncio
Sem desejar nada
além de ser esquecido.
quantas vezes eu gritei pra ser ouvido?
quantas vezes eu calei
esperando um carinho voluntário
recebendo somente solidão e angústia?
quantas vezes eu me esforcei todo dia
e estraguei tudo, com um erro básico?
de onde vou tirar forças
pra começar do zero
sabendo que hoje ou daqui há alguns anos
um erro colocará abaixo o castelo de cartas
sobre o qual me aninhei?
como seguir o fluxo
o Tao
desse rio perpétuo
sempre cambiante
e ainda assim
agir?
com não cair no marasmo da passividade?
como ter a Vontade para ser Além?
como não querer, como não esperar?
Se não têm a resposta, porque fazem isso comigo?
Não seria melhor
colocar tudo de lado
e simplesmente
esquecer?
como eu poderia
ser visto como tudo que sou
ou ser outra coisa afinal
até que num lampejo luminoso
eu seja visto
eu seja lembrado
e a mão macia do amor e da gratidão
que não seja do etéreo Deus
afague e console
Como suportar, senão no delírio d'Ele
essa enxurrada de mágoas
essa dor nas costas
esta garganta seca
essa lágrima presa
e no leito
no lugar do descanso
o sonho maldito
noite após noite após noite após noite
seu fantasma vingativo me visitando
enquanto sua mente seu coração e seu corpo
visitam outros
(que lhe tenham e façam bem)
Estou preso nessa desventura romântica?
Seria Anansi a tecelã
desse anti-heroi romântico maldito
seria eu o escultor dessa estátua de mármore
como gaulês em eterna agonia?
Afinal, eu gosto de sofrer?
Sofrer não mostra meu amor? Quanto tenho que sofrer mais? De que adiantaria?
Passei suado, pela mesma portaria de quase trinta anos atrás, fedendo e faminto.
Mas eu era melhor que elas, que eles todos!
porque na minha cabeça nascia um poema
desabafei nessa prosa sem vergonha
evocando um panteão de falsos deuses, sem respostas
num monólogo pobre, para platéia alguma
até que eu mesmo me esqueça
até que eu seja esquecido
talvez pelo desejo escondido
da vontade
de ser lembrado
por aqueles que também caminham para o nada
terça-feira, 30 de janeiro de 2018
sexta-feira, 26 de janeiro de 2018
Feshow
Quando eu era um homem pela metade
um fantasma
você ainda via em mim
o que eu não conseguia ver no espelho
Quando eu te falei do que fiz
que me desfiz e que não conseguia me refazer
você simplesmente me chamou pra beber
Sempre que cheguei
você se levantou e me deu um abraço
E que orgulho senti de você me dando aula
Agora que o ano virou
eu quero virar também
e olhando pra frente
eu te vejo lá adiante
e quero você sempre perto
nunca
nunca distante
viu?
é muito bom saber
que você me ajudou a levantar
quero que esteja aqui
pra ver
quando a época boa chegar
e você estará lá comigo pra comemorar
com esses seus olhos de amêndoas
com esses seus lábios carnudos
esse sorriso grosso e gostoso
esse jeitinho meigo e maluco
de ser tão parecida comigo em quase tudo
nosso amor é melhor
que o de amigo
e é melhor que o de namorado também
vai estar sempre ao meu lado
igual a nós dois não existe ninguém
um fantasma
você ainda via em mim
o que eu não conseguia ver no espelho
Quando eu te falei do que fiz
que me desfiz e que não conseguia me refazer
você simplesmente me chamou pra beber
Sempre que cheguei
você se levantou e me deu um abraço
E que orgulho senti de você me dando aula
Agora que o ano virou
eu quero virar também
e olhando pra frente
eu te vejo lá adiante
e quero você sempre perto
nunca
nunca distante
viu?
é muito bom saber
que você me ajudou a levantar
quero que esteja aqui
pra ver
quando a época boa chegar
e você estará lá comigo pra comemorar
com esses seus olhos de amêndoas
com esses seus lábios carnudos
esse sorriso grosso e gostoso
esse jeitinho meigo e maluco
de ser tão parecida comigo em quase tudo
nosso amor é melhor
que o de amigo
e é melhor que o de namorado também
vai estar sempre ao meu lado
igual a nós dois não existe ninguém
Sem 2 não tem 1
Você gigante
eu microscópico
Você infinita
eu nada
Você estrela
eu apagado
Você flor
eu abelha
as vezes eu penso
que você se acha
as vezes eu te acho
as vezes eu penso
que te coloquei num pedestal
as vezes eu te gosto tanto
que passo mesmo mal
e te ver sempre foi um assombro
não sei se te adoro
ou se você é mesmo deus
eu microscópico
Você infinita
eu nada
Você estrela
eu apagado
Você flor
eu abelha
as vezes eu penso
que você se acha
as vezes eu te acho
as vezes eu penso
que te coloquei num pedestal
as vezes eu te gosto tanto
que passo mesmo mal
e te ver sempre foi um assombro
não sei se te adoro
ou se você é mesmo deus
Quando você chegava
Quando você chegava
eu lembro bem
aquela imagem destacada do fundo
como se não pertencesse a esse mundo
o chão não merecia seus pés
a luz não merecia seus olhos
e chamar de perfume
era reduzir o aroma dos seus cabelos
tão branca
tão branca
tão pura
e eu só queria
o que eu mais queria
era merecer
estive reduzido ao minúsculo
mas você mesmo assim vinha
e era minha
e eu te tomava nos braços
constrangido pela sua imensidão
como era bom
como era bom
agora já posso morrer
porque já fui feliz
já se disse
que de tantas eras
de tantas estrelas
na imensidão do universo e do tempo
dessas infinitudes todas
eu nasci
juntinho de você
e nossos caminhos se cruzaram
fomos dois pombinhos que se amaram
até que fomos torpes
para além do perdão
quero não
quero não
"essa dor eu não quero pra ninguém no mundo
imagina só
pra você"
"nada do que eu fui
me veste agora
sou toda gota
que escorre livre pelo rosto
e só sossega quando encontra a sua boca"
eu lembro bem
aquela imagem destacada do fundo
como se não pertencesse a esse mundo
o chão não merecia seus pés
a luz não merecia seus olhos
e chamar de perfume
era reduzir o aroma dos seus cabelos
tão branca
tão branca
tão pura
e eu só queria
o que eu mais queria
era merecer
estive reduzido ao minúsculo
mas você mesmo assim vinha
e era minha
e eu te tomava nos braços
constrangido pela sua imensidão
como era bom
como era bom
agora já posso morrer
porque já fui feliz
já se disse
que de tantas eras
de tantas estrelas
na imensidão do universo e do tempo
dessas infinitudes todas
eu nasci
juntinho de você
e nossos caminhos se cruzaram
fomos dois pombinhos que se amaram
até que fomos torpes
para além do perdão
quero não
quero não
"essa dor eu não quero pra ninguém no mundo
imagina só
pra você"
"nada do que eu fui
me veste agora
sou toda gota
que escorre livre pelo rosto
e só sossega quando encontra a sua boca"
cortaram as asas do passarinho
mas ele também nunca foi bom
em voar sozinho
enfiaram criptonita no super homem
prata no lobisomem
molharam o gizmo
apertaram o botão vermelho
me vi no espelho
eu já sei
eu já sei
não gostei
"chegou a conta
aquele ponto
em que tudo
muda"
o choro embotado
faz tanto tempo
tanto tempo
que me perdi
que não sei mais quem tá aqui
morri
penado
De onde vem seu poder?
Fui eu que te emprestei?
A imagem incólume fui eu que construí?
Daqueles alvos lábios acusadores
onde me perdi.
daqueles grossos cachos
daquele perfume
que não está aqui
quantas horas se passaram?
quantos dias?
meses?
e quantos ainda faltam
pra eu ter a mim mesmo de volta?
estou com saudade
de ser feliz de verdade.
mas ele também nunca foi bom
em voar sozinho
enfiaram criptonita no super homem
prata no lobisomem
molharam o gizmo
apertaram o botão vermelho
me vi no espelho
eu já sei
eu já sei
não gostei
"chegou a conta
aquele ponto
em que tudo
muda"
o choro embotado
faz tanto tempo
tanto tempo
que me perdi
que não sei mais quem tá aqui
morri
penado
De onde vem seu poder?
Fui eu que te emprestei?
A imagem incólume fui eu que construí?
Daqueles alvos lábios acusadores
onde me perdi.
daqueles grossos cachos
daquele perfume
que não está aqui
quantas horas se passaram?
quantos dias?
meses?
e quantos ainda faltam
pra eu ter a mim mesmo de volta?
estou com saudade
de ser feliz de verdade.
sexta-feira, 19 de janeiro de 2018
Palavra
Já escrevi
nesse diário
sobre o poder mágico que penso haver nas palavras
como nela nasce o mundo
ou se destrói
até um coração de pedra
alguns casos complicados
são um novelo embolado
e a palavra é uma pinça
que pode dali tecer
uma peça maravilhosa
existem também
palavras indizíveis
nomes de coisas terríveis
que a palavra parece atrair
doenças ou pessoas amadas
podem se encaixar aqui
as vezes uma palavra
fica enfiada como um prego na minha testa
como um ovo na minha garganta
chego a lacrimejar
mas não ouso seu nome pronunciar
as vezes duas palavras opostas
são ambas verdade
amo odeio
bom mau
bonito feio
íntegro e mal caráter
em cima de um lugar
pode ser debaixo de outro
dizem que palavras são só vento
mas eu penso que não
palavras são chaves
que podem abrir um coração
eu ainda não tenho essa palavra mágica
mas talvez seja ela a solução
de arrancar do meu peito
essa maldita obsessão
queria ser Houdini pra escapar dessa prisão
mas não consigo eu mesmo diferenciar
o que é chave e o que é grilhão
prego ovo amo odeio
nesse diário
sobre o poder mágico que penso haver nas palavras
como nela nasce o mundo
ou se destrói
até um coração de pedra
alguns casos complicados
são um novelo embolado
e a palavra é uma pinça
que pode dali tecer
uma peça maravilhosa
existem também
palavras indizíveis
nomes de coisas terríveis
que a palavra parece atrair
doenças ou pessoas amadas
podem se encaixar aqui
as vezes uma palavra
fica enfiada como um prego na minha testa
como um ovo na minha garganta
chego a lacrimejar
mas não ouso seu nome pronunciar
as vezes duas palavras opostas
são ambas verdade
amo odeio
bom mau
bonito feio
íntegro e mal caráter
em cima de um lugar
pode ser debaixo de outro
dizem que palavras são só vento
mas eu penso que não
palavras são chaves
que podem abrir um coração
eu ainda não tenho essa palavra mágica
mas talvez seja ela a solução
de arrancar do meu peito
essa maldita obsessão
queria ser Houdini pra escapar dessa prisão
mas não consigo eu mesmo diferenciar
o que é chave e o que é grilhão
prego ovo amo odeio
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