domingo, 24 de julho de 2011

Todas as tragédias que se podem imaginar reduzem-se a uma mesma e única tragédia: o transcorrer do tempo. Simone Weil

Cante comigo

http://www.youtube.com/watch?v=-dEgWy7kbew

Well, Bohemoth calls us his own
While Bahamut wanders alone
They both go out to play
On that cold and rainy day

And Bohemoth sings us his song
While Bahamut wanders along
But in the glory of this spring
You can hear Bahamut sing

Whoa-ho-ho
Are you as big as me?
Whoa-ho-ho-ho
Way too big to see
Whoa-ho-ho-ho-ho
Bahamut he goes so slow
Whoa-ho-ho-ho
Too big a place to go

(Solos)

(Spoken)
The entire known universe
Floats suspended in a thin silver bowl
Which rocks gently on the back
Of an immense blue-green tortuga
And the tortuga's scaly feet
Are firmly placed on the topmost
Of seven craggy mountains
Which arise from a vast and arid plain
Of drifting, fetid, yellow dust
And the plain is balanced precariously
On top of a small thin green acacia tree?
Which grows from the snout
Of a giant blood red ox
With 50 eyes that breathes flame
The color of the midnight sky
And the ox's hooves are firmly placed
On the single grain of sand
Which floats in the eye of Bahamut
Like a mote of dust
No one has ever seen Bahamut
Some think it's a fish
Some think it's a newt
All we know is that the lonely Bahamut
Floats endlessly through all time and all space
With all of us and everything
Floating in a single tear
Of his eye

Well, Bohemoth calls us his own
While Bahamut wanders alone
When they both go out to play
On that cold and rainy day

And Bohemoth sings us his song
While Bahamut wanders alone
But in the glory of their fall
You can hear Bahamut call

Whoa-ho-ho
Are you as big as me?
Whoa-ho-ho-ho
Way too big to see
Whoa-ho-ho-ho-ho
Bahamut he goes so slow
Whoa-ho-ho-ho
Too big a place to go

terça-feira, 19 de julho de 2011

“A verdade histórica, para ele, não é o que sucedeu; é o que pensamos que sucedeu.[...] Compreendeu que o empenho de modelar a matéria incoerente e vertiginosa de que se compõem os sonhos é o mais árduo que pode empreender um homem, ainda que penetre todos os enigmas da ordem superior e da inferior: muito mais árduo que tecer uma corda de areia ou amoedar o vento sem efígie. Compreendeu que um fracasso inicial era inevitável. [...] Talvez Schopenhauer tenha razão: eu sou os outros, qualquer homem é todos os homens [...]"

-Ficções, Borges.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

"Great spirits have always encountered
violent opposition from mediocre minds.
The mediocre mind is incapable of understanding
the man who refuses to bow blindly to conventional prejudices
and chooses instead to express his opinions
courageously and honestly."

Albert Einstein

sábado, 16 de julho de 2011

Estamos jogando juntos esses jogos da mente,
empurrando barreiras, plantando sementes,
Jogando a guerrilha da mente

Jogos da mente (John Lennon)

Mito e sonho

Quer escutemos, com desinteressado deleite, a arenga (semelhante a um sonho) de algum feiticeiro de olhos avermelhados do Congo, ou leiamos, com enlevo cultivado, sutis traduções dos sonetos do místico Lao-tse; quer decifremos o difícil sentido de um argumento de Santo Tomás de Aquino, quer ainda percebamos, num relance, o brilhante sentido de um bizarro conto de fadas esquimó, é sempre com a mesma história — que muda de forma e não obstante é prodigiosamente constante — que nos deparamos, aliada a uma desafiadora e persistente sugestão de que resta muito mais por ser experimentado do que será possível saber ou contar

Campbell - O Herói de Mil Faces

sexta-feira, 15 de julho de 2011

“Não está morto aquele que dorme. Na imensidão da
eternidade, a morte pode ela própria falecer”.
-Lovecraft
“O deus fragmentado, transformado em ar, água, terra e fogo, representa o tormento da individuação, do qual ele cria, com seu sorriso, os deuses olímpicos, e com suas lágrimas, a vida humana. Dionísio, produto do divino casamento entre o céu e a terra, é ao mesmo tempo governador clemente e homem feroz, trazendo consigo a promessa do próprio renascimento, que reunirá o mundo e acabará com a dolorosa existência limitada pela individuação” (NIETZSCHE. O nascimento da Tragédia, § 10).

A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez - e tu com ela, poeirinha da poeira! Nietzsche - A gaia ciência (1978: 208)
"o sonho de um é parte da memória de todos."
Jorge Luis Borges

quinta-feira, 14 de julho de 2011

"Através dos portões assombrados do sono
para além do noturno abismo, tenebroso,
tenho vivido minhas vidas incontáveis
e sondado com a vista a multidão das coisas;
e me debato e grito antes do amanhecer,
enlouquecido p
elo medo.























Rodopiei com a terra em seu alvorecer,
quando o céu era só uma poeira de fogo;
e vi o bocejar
do sombrio universo,
por onde giram sem propósito os planetas,
por onde giram num terror que ninguém ouve,
sem consciência, brilho ou nome."

                                                   H. P. Lovecraft.

sábado, 2 de julho de 2011

There goes my Heroe



Quando o sr. começou a escrever, houve uma reviravolta, então, com relação a essa concepção primeira e desvalorizadora da escrita? A reviravolta veio, evidentemente, de mais longe. Mas cairíamos numa autobiografia ao mesmo tempo anedótica demais e banal demais para que fosse interessante falarmos dela. Digamos que foi por meio de um trabalho longo que eu finalmente conferi a essa palavra tão profundamente desvalorizada um certo valor e um certo modo de existência.Hoje, o problema que me preocupa -e que, na realidade, não pára de me preocupar há dez anos- é o seguinte: em uma cultura como a nossa, em uma sociedade como a nossa, o que significa a existência das palavras, da escrita, do discurso? Me pareceu que nunca atribuímos importância tão grande ao fato de que, ao final de tudo, o discurso existe.Os discursos não são apenas uma espécie de película transparente através da qual e graças à qual enxergamos as coisas, eles não são simplesmente o espelho do que é e do que pensamos. O discurso possui uma consistência própria, sua espessura, sua densidade, seu funcionamento. As leis do discurso existem do mesmo modo que as leis econômicas existem.

É claro que ela marca uma conversão total com relação àquilo que, para mim, era a desvalorização absoluta da palavra quando eu era criança. Me parece -creio que consiste nisso a ilusão de todos aqueles que acreditam descobrir alguma coisa- que meus contemporâneos são vítimas das mesmas miragens de minha infância. Também eles crêem facilmente demais, como eu fazia no passado, como se acreditava em minha família, que o discurso, a linguagem, não é grande coisa, no fundo.Os lingüistas, eu sei, descobriram que a linguagem é muito importante porque ela obedece a leis, mas eles insistiram sobretudo na estrutura da linguagem, ou seja, na estrutura do discurso possível.Mas eu me pergunto é sobre o modo de surgimento e funcionamento do discurso real, sobre as coisas que foram efetivamente ditas. Trata-se de uma análise das coisas ditas, na medida em que são coisas. É isso que é o oposto do que eu pensava quando era criança.Sinto uma impressão de veludo quando escrevo. Para mim, a idéia de uma escrita aveludada é como um tema familiar, no limite do afetivo e do perceptivo, que não pára de assombrar meu projeto de escrever, não pára de guiar minha escrita quando estou escrevendo, que me permite a cada momento escolher as expressões que quero utilizar. A doçura é uma espécie de impressão normativa para minha escrita. Assim, fico muito espantado ao constatar que as pessoas tendem a enxergar em mim alguém cuja escrita é seca e mordaz.Refletindo sobre isso, acho que são elas que têm razão. Imagino que deve existir, em minha caneta, uma velha herança do bisturi. Talvez, afinal, eu trace sobre a brancura do papel os mesmos sinais agressivos que meu pai traçava sobre os corpos dos outros que ele operava. Transformei o bisturi em caneta. Passei da eficácia da cura à ineficácia da livre proposta, substituí a cicatriz sobre o corpo pela grafitagem sobre o papel, substituí o inapagável da cicatriz pelo sinal perfeitamente apagável e rasurável da escrita. Talvez seja mesmo o caso de ir mais longe ainda. A folha de papel, para mim, talvez seja como os corpos dos outros.O que é certo, o que eu senti imediatamente quando, perto dos 30 anos de idade, comecei a sentir o prazer de escrever, é que esse prazer de escrever sempre guardou um pouco de relação com a morte dos outros, com a morte de modo geral. Essa relação entre escrita e morte é algo do qual mal ouso falar, pois sei quanto alguém como [Maurice] Blanchot já falou sobre coisas muito mais essenciais, gerais, profundas e decisivas do que o que eu possa dizer agora.Eu diria que a escrita, para mim, está ligada à morte, talvez essencialmente à morte dos outros, mas isso não significa que escrever seria como assassinar os outros e realizar contra eles, contra sua existência, um gesto definitivamente mortífero que os expulsaria da presença, que abriria um espaço soberano e livre à minha frente. De maneira nenhuma. Para mim, escrever significa lidar com a morte dos outros, sim, mas, essencialmente, significa lidar com os outros na medida em que já estão mortos. De certa maneira, falo sobre o cadáver dos outros. Devo confessar que, até certo ponto, eu postulo sua morte. Falando deles, me vejo na situação do anatomista que faz uma autópsia.Com minha escrita, eu percorro o corpo do outro, faço incisões nele, levanto os tegumentos e as peles, procuro trazer os órgãos à tona e, com isso, fazer aparecer finalmente o local da lesão, o local onde reside o mal, esse algo que caracterizou sua vida, seu pensamento e que, em sua negatividade, acabou por organizar tudo o que eles foram. Esse coração venenoso das coisas e dos homens -é isso, no fundo, o que eu sempre procurei trazer à tona.Eu compreendo, também, porque as pessoas sentem minha escrita como uma agressão. Elas sentem que existe nela alguma coisa que as condena à morte. Na realidade, sou bem mais ingênuo do que isso. Eu não as condeno à morte. Simplesmente suponho que já estejam mortas. É por isso que me surpreendo quando as ouço gritar. Fico tão espantado quanto o anatomista que sentisse redespertar de repente, sob a ação de seu bisturi, o homem sobre o qual pretendia fazer uma demonstração. Bruscamente, os olhos se abrem, a boca se mete a gritar, o corpo a se retorcer, e o anatomista se espanta: "Então ele não estava morto!".Acho que é isso o que acontece comigo em relação àqueles que me criticam ou gritam contra mim, depois de me haver lido. Sempre é muito difícil para mim responder a eles, exceto por uma desculpa, desculpa que eles talvez interpretem como ironia, mas que, na realidade, é a expressão de meu espanto: "Então eles não estavam mortos!".