quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Esfrega arte na minha cara


No meu ninho

aprendi a ser objetiva e prática

te vira menina

faça sozinha

é a vida

a gente tem que

saber se virar

 

meu tempo não era meu

era do amanhã

era da guerra

era do curativo

das feridas que ainda nem tinham ferido

alerta vermelho

ação

 

Nunca tive tempo para arte

ou melhor, 

para sentir arte

[ ]

mata a fome?

não

protege da chuva?

não

mata sede?

não

pra que serve então?

arte é bicho sem razão

quero não...

 

mas como em toda guerra

há morte

ah morte!

soberana

sabia

cigana

ela abraça, dilacera e revela

não faz jus a má fama

inflama, queima e torna cinza

toda e qualquer falta de tempo

aliada da vida

essa vida mesmo... que foi feita pra ser sentida

me fez entender

que só com arte dá pra Ser

 

mata a fome?

depende de que

protege da chuva?

molha todo o ser

mata sede?

só se você beber

pra que serve então?

pra viver.

 

Estou aprendendo, experimentando, me permitindo mergulhar em cores, formas e sensações, que não foram feitas para caber em razões, mas que sabem muito bem como aquecer corações

o tempo é do ócio, não tem função, não tem palavra, não tem o que ter. 

Conheço pouco ou nada sobre arte

mas conheço muito sobre mim e de toda potência que há nesse corpo, me contento em sentir ao invés de saber.

Manda a ver! 

 

Esfrega arte em mim

lambuze meu corpo com tintas

escreva poemas sobre minha pele

chove em mim, amor

dedilhe notas musicais ao pé dos meus ouvidos

sussurre formas geométricas e abstratas até me fazer arrepiar

molda meu corpo no seu

dança comigo

e

mais uma vez

repita a dose

Esfrega arte na minha cara


[enviado pra mim por Thaís Real dia 24/02/2021]

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Eu-rio

Sem esperar 
Veio a chuva 
Repentina 
Caudalosa 
Morna 
Uma chuva de fim de verão. 

Vamos ver agora 
Se disso algo vai brotar 
Mas já valeu
Pelo cheirinho de terra 
Pelo aconchego 
Pelo novo sentido dado
Àquelas tardes aconchegantes 
Em que meu coração-tromba d'água

Eu vim lá de longe
Por cima das nuvens 
Chovi em você 
Em meia hora 
Desaguei um amor inteiro 

Você tristinha 
Me disse que era um anjo quebrado 
Mas essas coisas não existem 
As vezes a gente só não consegue se ver 

Mas aqui está 
Te dou de presente 
Esse espelhinho dágua
Olha nele seus olhos de amêndoa 
Seus cachos 
Sua boca carnuda 
Suas curvas 
Deixa ressonar nele tua gargalhada
Reflete nele 
Seu humor 
Sua inteligência 
Sua determinação
E vê lá no fundo 
Que até o vento da chuva suspira por você

E lá fora, deixa eu chover 
Talvez eu escorra pelas frestas 
E vire um mar bem salgado de lágrimas
Talvez eu vire nuvem de novo e suma no horizonte 
Talvez um pouco da minha água 
Alimente uma semente e vire uma flor 
Ou transforme o mundo num jardim pra gente percorrer 

O certo é que quando a água passa 
Algumas coisinhas mudam 
Talvez tão imperceptíveis
Quanto a mudança interna necessária 
Pra você olhar no espelho e reafirmar 
Eu quero 
Eu posso 
Eu mereço

Quanto a mim-água
O movimento é minha natureza 
Não lamento que devo ir logo logo
Porque sempre levarei um pouco de você comigo
Fernanda
E quem sabe um dia numa curva de rio 
A gente ria junto outra vez ❤️