terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Eu-rio

Sem esperar 
Veio a chuva 
Repentina 
Caudalosa 
Morna 
Uma chuva de fim de verão. 

Vamos ver agora 
Se disso algo vai brotar 
Mas já valeu
Pelo cheirinho de terra 
Pelo aconchego 
Pelo novo sentido dado
Àquelas tardes aconchegantes 
Em que meu coração-tromba d'água

Eu vim lá de longe
Por cima das nuvens 
Chovi em você 
Em meia hora 
Desaguei um amor inteiro 

Você tristinha 
Me disse que era um anjo quebrado 
Mas essas coisas não existem 
As vezes a gente só não consegue se ver 

Mas aqui está 
Te dou de presente 
Esse espelhinho dágua
Olha nele seus olhos de amêndoa 
Seus cachos 
Sua boca carnuda 
Suas curvas 
Deixa ressonar nele tua gargalhada
Reflete nele 
Seu humor 
Sua inteligência 
Sua determinação
E vê lá no fundo 
Que até o vento da chuva suspira por você

E lá fora, deixa eu chover 
Talvez eu escorra pelas frestas 
E vire um mar bem salgado de lágrimas
Talvez eu vire nuvem de novo e suma no horizonte 
Talvez um pouco da minha água 
Alimente uma semente e vire uma flor 
Ou transforme o mundo num jardim pra gente percorrer 

O certo é que quando a água passa 
Algumas coisinhas mudam 
Talvez tão imperceptíveis
Quanto a mudança interna necessária 
Pra você olhar no espelho e reafirmar 
Eu quero 
Eu posso 
Eu mereço

Quanto a mim-água
O movimento é minha natureza 
Não lamento que devo ir logo logo
Porque sempre levarei um pouco de você comigo
Fernanda
E quem sabe um dia numa curva de rio 
A gente ria junto outra vez ❤️

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