domingo, 8 de julho de 2018

Penetrando a membrana do mundo

Eu
tão pequenininho
estou posto diante
da pulsante
membrana do mundo

é uma parede escura
fibrosa
por vezes rubra
com estrondos inaudíveis

olho em volta
e estou só
o frio e a solidão
me paralisam

estico minha mão
e toco os dedos na membrana morna
sabendo que do outro lado
está talvez
aquilo que preciso

mas quando digo preciso
talvez você não entenda
o quanto isso me é vital
porque aqui estou no limbo
tenho pertença, tenho amigos, família
lugares de saudade permanente
mas não estou realmente vivo

e nem me lembro a última vez
que por benção do Fora
ou por inocência
me senti pleno por mais de uma noite

mas socar a membrana não parece ser o bastante
agora busco qualquer prana
qualquer energia da vida e do mundo
que me faça dar uma guinada pra frente
acertando a membrana do mundo
com a minha cara
com o meu peito aberto
e na dor de nascer de novo
eu atravesse
atordoado
para o outro lado
até que caia, espremido e nu
do outro lado
e abra meus olhos
como se fosse a primeira vez
para quem sabe assim
talvez
conseguir renascer

mas em esperança simbólica
na solidão
eu choro sozinho
encarando a membrana do mundo
sem saber como ter forças
para atravessá-la

quinta-feira, 5 de julho de 2018

O furacão chegou

Todos os furacões tem nomes de mulher
e esse me veio como uma lufada violenta
de perfume e luz
nauseadas de amor

minhas pernas balançaram
ergui a cabeça
antes sempre voltada pra baixo
tão triste
e eu gritei
mas não fui ouvido

Em seu rastro nem as árvores altas resistiram
e minha rotina
tão maçante
foi aniquilada junto

Agora nessa paisagem arrasada
eu vi que talvez tenha chegado a hora de partir
Queria mesmo
viver esses momentos bobos
despretensiosos
de choro e riso fácil

Mas nada na minha vida parece ter sido fácil
certamente pelo que eu sou
mas também porque o mundo não parece se importar
com justiça, afinal

E alguma coisa em mim mudou
O que eu era acenou
Pro lobo solitário que me tornei
Mostrando que o passado foi cheio de coisas bonitas
de que reluto em admitir, tenho saudade

Talvez seja mesmo a hora
de botar a trouxa de roupas no ombro
e caminhar em direção àquele sonho difícil
escalar algumas montanhas
atravessar o mar
e tentar
me refazer
em algum lugar diferente e bonito

Só peço aos deuses
que essa resiliência que construí
seja suficiente pra sobreviver
sem ajuda de ninguém
sem amigos
sem amores
sem governos

porque o que eu quero é me jogar no mundo
e viver lá fora
nu e vazio
como eu tenho me arrastado aqui
e quem sabe o destino
não tenha me pregado essas peças
me preparando pro que reserva pra mim

gostaria de saber
se meu pai
lá do alto
que me acompanha sempre no coração
poderia fazer, como sempre fez,
qualquer coisa pra me ajudar
mas eu não sei

e sem saber eu vou
e sem saber eu voo