Eu
tão pequenininho
estou posto diante
da pulsante
membrana do mundo
é uma parede escura
fibrosa
por vezes rubra
com estrondos inaudíveis
olho em volta
e estou só
o frio e a solidão
me paralisam
estico minha mão
e toco os dedos na membrana morna
sabendo que do outro lado
está talvez
aquilo que preciso
mas quando digo preciso
talvez você não entenda
o quanto isso me é vital
porque aqui estou no limbo
tenho pertença, tenho amigos, família
lugares de saudade permanente
mas não estou realmente vivo
e nem me lembro a última vez
que por benção do Fora
ou por inocência
me senti pleno por mais de uma noite
mas socar a membrana não parece ser o bastante
agora busco qualquer prana
qualquer energia da vida e do mundo
que me faça dar uma guinada pra frente
acertando a membrana do mundo
com a minha cara
com o meu peito aberto
e na dor de nascer de novo
eu atravesse
atordoado
para o outro lado
até que caia, espremido e nu
do outro lado
e abra meus olhos
como se fosse a primeira vez
para quem sabe assim
talvez
conseguir renascer
mas em esperança simbólica
na solidão
eu choro sozinho
encarando a membrana do mundo
sem saber como ter forças
para atravessá-la
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