Todos os furacões tem nomes de mulher
e esse me veio como uma lufada violenta
de perfume e luz
nauseadas de amor
minhas pernas balançaram
ergui a cabeça
antes sempre voltada pra baixo
tão triste
e eu gritei
mas não fui ouvido
Em seu rastro nem as árvores altas resistiram
e minha rotina
tão maçante
foi aniquilada junto
Agora nessa paisagem arrasada
eu vi que talvez tenha chegado a hora de partir
Queria mesmo
viver esses momentos bobos
despretensiosos
de choro e riso fácil
Mas nada na minha vida parece ter sido fácil
certamente pelo que eu sou
mas também porque o mundo não parece se importar
com justiça, afinal
E alguma coisa em mim mudou
O que eu era acenou
Pro lobo solitário que me tornei
Mostrando que o passado foi cheio de coisas bonitas
de que reluto em admitir, tenho saudade
Talvez seja mesmo a hora
de botar a trouxa de roupas no ombro
e caminhar em direção àquele sonho difícil
escalar algumas montanhas
atravessar o mar
e tentar
me refazer
em algum lugar diferente e bonito
Só peço aos deuses
que essa resiliência que construí
seja suficiente pra sobreviver
sem ajuda de ninguém
sem amigos
sem amores
sem governos
porque o que eu quero é me jogar no mundo
e viver lá fora
nu e vazio
como eu tenho me arrastado aqui
e quem sabe o destino
não tenha me pregado essas peças
me preparando pro que reserva pra mim
gostaria de saber
se meu pai
lá do alto
que me acompanha sempre no coração
poderia fazer, como sempre fez,
qualquer coisa pra me ajudar
mas eu não sei
e sem saber eu vou
e sem saber eu voo
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