domingo, 27 de dezembro de 2020

Satírica

Já faz um tempo agora 
Que me deito com Diógenes
Me comporto eu mesmo
Como o Cão
Fazia um tempo eu tentava conservar valores que eles me convenceram que eram naturais, racionais, civilizados, mas não eram nada disso
E eles convenceram até a mim 
De que os sátiros eram demônios 
E de que o demônio era um cão 
E eu menti pois não podia suportar a idéia, de que eu era um mero animal 

Pobre cão 
tão natural, tão afável, tão rápido em se doar 
Julgado e condenado à lâmina pela justiça dos homens 

Porque julgaríamos então 
O mundo natural com regras humanas 
E porquê julgaríamos o homem
Com mais rigor do que julgaríamos um cão? 

Porque o simples fato de sermos animais 
Pode ser usado contra nós, como uma ofensa? 

Quantos milênios foram necessários 
Pra que essa mentira repetida 
Cobrisse nossa nudez com vergonha 
Ocultasse os nossos impulsos 
Além de nos colocar à parte da natureza 
Nos cerrando nesse terrível sentimento de animal enclausurado durante esses surtos de lucidez que muitas vezes chamamos depressão e ansiedade?

Uma vez eu vi um vira-latas entrar na igreja 
Seguindo o padre que exibia O Livro Sagrado
O cão sarnento parou em frente ao altar e diante da audiência constrangida 
Enfiou a cara entre as pernas e lambeu o próprio cu 

Uma vez eu vi um pombo cagar na cabeça de Nero (o medonho Imperador responsável por assassinatos cruéis e massacres terríveis) como o vi fazerem na cabeça de todos os homens que se acharam importantes o suficiente pra construírem estátuas de bronze de si mesmos. 

Eu que pulverizei essas convenções todas 
Que sou um animal, um cão e um blasfemo confesso que ri muito dessas demonstrações frivolas, mas potentes, de que a natureza está se lixando pra gente 

Nosso desejo é muito mais antigo que o casamento 
Nosso sagrado é muito mais antigo que o templo mais antigo 
Nós temos que reencontrar a nós mesmos!

Reencontrar a espontaneidade que nos fez autênticos
Reencontrar a liberdade que abdicamos em nome de tantas convenções 
Nos aceitar, como realmente somos 
E como sempre seremos 
Irmãos dos cães 
Sátiros nos bosques 
Verdadeiros filhos de Adão
ignorantes de qualquer fruto proibido 

domingo, 20 de dezembro de 2020

Arco Magno

Existe algo mágico 
Nas rochas vulcânicas 
Imagine uma onda forte 
Que demora milhões de anos pra estourar 
E naquele movimento 
Em que a terra se dobra, explode erode e escorre
Mas demora tanto tempo pra isso 
Que nós construímos ali, naquela dobra, nossas casinhas 
Entre uma ruga e outra 
Construíram um castelinho 
Pra controlar o comércio 
Em seus mercadinhos 
Eram Etruscos, eram gregos, eram cartagineses, eram romanos, eram germânicos, eram mouros, eram normandos, eram cruzados, eram espanhóis, eram finalmente italianos e eram fascistas... Eram tantos que nem sabemos seus nomes 
Nem sabemos os sons que faziam 
Como eram suas músicas, suas danças, seus banquetes, seus deuses... 

Lá embaixo 
O mar é azul piscina, dizem que tem muito calcário
Quase não se vê areia
As pedras parecem tanto com pedras de aquário
E de pé se vê o pé
E se veem peixes amarelos e azuis nadando 

Em cada grota, uma gruta 
Quantas velas esses ventos inflaram 
Quantos suores secaram? 
Esses imperadores, esses escravos 
Esses fazedores de leis 
E esses piratas 
Afundaram com seus tesouros? 
Ou os enterraram? 
Ou estão esses tesouros exibidos agora em museus 
Ou guardados em bancos, do outro lado do mundo? 

E pra mim é como se esse mesmo vento 
Estivesse em sua milionésima volta 
E ainda guardasse o eco 
De tantos fantasmas 

Mormanno

Algo aconteceu quando meus olhos cruzaram com os dele 
Aqueles olhos amarelos
Oblíquos
Me enfeitiçaram com seus gestos suaves 

O balanço da sua cauda 
O veludo de seus pêlos
O silêncio de seus passos 

As casas tão antigas 
Abandonadas 
As estrelas cintilando 
A névoa escorrendo 
E o vale lá em baixo 
As pedras vulcânicas 
Cristalizadas desafiando a gravidade 

Quantos mistérios 
Quanta suavidade
Quanta sabedoria 
De algo selvagem 
Entre ruínas de épocas esquecidas 

Quantos anos tinha 
Aquele gato preto? 

Pra mim parecia que ele tinha chegado ali antes dos Etruscos 
Tinha visto tantos povos indo e vindo
E construindo casas 
Em cima das ruínas das casas
E contando histórias sobre o mundo 
Em dialetos esquecidos
Com seus cheiros 
Com seus sons 
Sempre dentro de suas casinhas 
Como se os deuses 
A cada Era 
Montassem um presépio diferente 
Naquela montanha antiga  

Nele se encerraram todos os mistérios do mundo 

Um verdadeiro habitante do Sonhar

O imemorial gato preto na noite de Mormanno 
com seus olhos de estrelas

domingo, 29 de novembro de 2020

Em direção ao encontro

As vezes parece 
Que os gestos doces são solitários 

Uma coisa que fazemos 
Para sermos fiéis a nós mesmos
Para sermos auto indulgentes 
Algo que está para além da nossa vontade de se encaixar 
São coisas que sentimos 
Que precisamos fazer 

Até quando 
Andando cabisbaixos 
De repente 
Esbarramos com alguém 
A quem podemos olhar nos olhos 
Sermos nós mesmos 
Enquanto estamos juntos  
O fogo reacende! 
Os olhos voltam a brilhar!
E uma nova história linda 
Fica tão perto quanto um sim

As vezes parece 
Que os gestos doces são solitários 
Mas estamos sempre indo ao encontro de nós mesmos 
Um no outro
 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Eu tô nessa varanda na Itália
Cercado de flores 
Ouvindo música 
E olhando as casinhas do outro lado do vale 
Como pequenas cabeças de alfinete

Dentro delas 
Existem pessoinhas 
Que acham que suas preocupações são grandes
Como eu aqui acho que são as minhas 

E somos todos tão pequenininhos 
E o tempo corre estranho 
Uma hora voa 
Outra hora se arrasta 

E o meu sentindo
Preso aqui comigo 
Viaja continentes e cruza oceanos
Pra te imaginar dançando 

E na minha ilusão de ser 
Esse sentimento perene 
Parece tão grande, tão justo, tão bonito 

Acho que a gente só existe mesmo na minha imaginação 
Mas que mitologia tocante 
Que deusa bonita você é 
Que suspiro apaixonado 
Que amor melancólico

Eu tento me inclinar pro futuro 
E ver a gente junto 
Mas que bobeira 
Mas que bobeira importante
Pelo menos pra mim 

sábado, 21 de novembro de 2020

Fogareiros queimavam em grandes caldeiras de bronze, fazendo-as reluzir com um brilho dourado ao redor do salão. Pelas persianas o oceano de areia azul, iluminado por todas as estrelas, de onde vinha sibilando o vento fresco do deserto noturno. Enquanto ali dentro na luz dourada do fogo, luziam o rosa, o verde, o azul e o vermelho, das almofadas de cetim. Na tapeçaria intrincada, um grupo de amigos se esparramava. Bandejas de prata trabalhada, com jarras de metal traziam os licores mais exóticos, como exótica também era a fumaça que bruxuleava dos narguilés. Ali os homens de olhos pintados, barbas untadas, turbantes magníficos! Discutiam astrologia, matemática, medicina - entre orgias maravilhosas com odaliscas lubrificadas e entre opióides que os levavam às estrelas. Oh quanto sabiam, quão bem viviam, quanto conquistaram; homens da Babilônia e de Persépolis. Não foi senão a inveja dos bárbaros que os empurrou ao esquecimento. Mas nas areias do tempo ainda vivem em sonhos clandestinos. 

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Desassossego

Em seu leito de morte 
Entre bips e muitos aparelhos 
Você agarraria talvez 
O médico pelo colarinho 
Implorando 
"Só mais um dia"

Mas quantos dias você joga fora 
Hoje? 
Ou a que deus devota seus dias com diligência? 
E o que é afinal 
A vida 
E o que é viver? 

Como poderíamos
Se é que existimos at all 
Achar que temos escolhas? 

Eu por exemplo
Nasci assim sofrendo de várias anomalias 
Uma delas é a melancolia 
Outra a profundidade 
Ser esquisito talvez estivesse no meu DNA
E eu já tentei me encaixar 
Não dá

O que fez de mim uma criança quieta 
Que olhava de soslaio e se dedicava muito a entender do que os adultos estavam falando? 
Que achava as outras crianças chatas 
Que se entertia mais com livros que com videogames? 

Foram meus pais? Foi a necessidade de obter reconhecimento das pessoas? Como talvez seja o objetivo mal disfarçado desse texto.
E quem fez meus pais serem como meus pais e quem fez os pais deles? E quem determinou o que seria motivo de vaidade?

Eu sou atravessado por esse turbilhão de informações
desde as longas cadeias proteicas que determinam minha fisiologia
Até essas interações todas que permeam o oceano agitado de uma sociedade 

E eu fico pensando
Como pode alguém passar despercebido por isso tudo? 
E como poderia alguém se perder nessa realidade esmagadora sem ser devorado pela insanidade?

Seria possível, quem sabe um dia, algum supercomputador calcular todas essa vertiginosa multitude de informações e saber talvez, o que é a vida? Prevendo assim o futuro? Se o Universo é um fenômeno no tempo e se fora do tempo ele já é consumado, não seria ele mesmo esse supercomputador já que o Universo não sabe o que acontece num sentido de consciência, mas de que ele calcula o resultado de cada equação, dando aos acontecimentos sua sequência lógica?  

Seria possível mapear todas as conexões 
Desde cada braço de cada neorônio 
A composição química de cada hormônio
O motivador de cada ação 
E a infinita cadeia de reações? 

Seria possível talvez 
Se erguer em transcendência 
Pra fora do Universo 
Segurar suas galáxias todas nas mãos
Como elas são, foram e serão
Como se essa expansão caleidoscópica 
Fosse o universo
um fato consumado 
E chamar a si mesmo 
Deus 

E dotar tudo de um sentido transcendental 
Dando a essas efemeridades que chamamos homens 
Uma alma ETERNA
Através da qual poderiam preservar eternamente sua individualidade tão contraditória e insignificante.
E fazendo com eles uma aliança num deserto onde uma tribo se saberia escolhida como filha favorita 
Dessa fucking entidade cósmica
Onde só o indivíduo A e B seriam os detentores da última verdade e por isso fossem colocados acima de todos os outros primatas e da natureza toda como Verdadeiros Escolhidos do Pai Celestial?

Não seria mais provável acreditar que essa seria uma mentira que esses animaizinhos sedentos de poder que chamamos Homem, cumprindo suas determinações biológicas e sociais, teriam inventado essa história pra se sobrepor aos outros primatas e natureza toda? 

Mas como levar a vida sabendo que nossa consciência e individualidade é uma farsa
Que a evolução nos deu uma inteligência pra aumentar nossas chances de sobrevivência - objetivo de todo ser vivo - mas que essa mesma inteligência nos dá essa auto percepção de que somos animaizinhos duelando pra preservar a nossa espécie nessa poerinha que chamamos planeta Terra. 

Como seria aterradora então a percepção de que não somos especiais, de que estamos sozinhos no frio e que ninguém trará o cobertor. De que não vamos rever as pessoas que perdemos. De que não haverá justiça transcendente pra julgar os abomináveis atos de crueldade!

Eu não acredito em Deus 
Eu não acredito em Deus porque não posso acreditar 
Deus é do tamanho do nosso vazio
Do tamanho da nossa dor, do nosso medo
Deus é uma desculpa que nos inventamos pra poder continuar 

E pra falar a verdade eu não acredito no homem também

Essas são duas verdades aterradoras 
Deus não existe 
Mas o indivíduo também não existe 
Eu que escrevo não existo e você que lê também não 

Segure minha mão e me acompanhe nesse passeio 

Desde o primeiro ser vivo
gestado na lama morna dos oceanos primordiais sob pressão esmagadora e temperaturas extremas 
Existe uma linha de carbono que se extende do passado remoto até o futuro imprevisível 
E nessa linha você é um ponto 
Carregado de todas essas existências remotas 
Seus instintos 
seus impulsos inomináveis 
Composto dessas moléculas pesadas fundidas em estrelas distantes 
Como esse aglomerado de átomos 
Que precisa repor seus elementos químicos 
E precisa seguir seus instintos primordiais 
É também atravessada por elementos sociais que mal compreende 
Desde a natureza intrínseca da linguagem em que foi alfabetizado 
O formato de família e religião através do qual aprendeu a olhar o mundo e essas relações todas que naturalizamos 
como país, dinheiro, tecnologia... 
Como você não poderia se considerar o resultado dessa cadeia de eventos arranjada muito muito antes de você nascer e disposta no infinito como ato já consumado? 
Como você poderia olhar esse pedaço efêmero de carne no espelho e considerando o intrínseco arranjo da sua biologia, considerando essa troca constante de átomos com o entorno arranjados sempre em um padrão fluído em mutação e pensar, considerar essa pressão esmagadora da história sobre esse pedacinho da sociedade que você chama de você e pensar: 
"eu sou"
?

Quão gigantesca seria a epopéia de segurar as cordas da vela e navegar o Oceano tempestuoso do espaço-tempo achando que tem o leme nas mãos e o mapa mais preciso sobre a mesa? 
Tomar o cavalo indomável do Universos pela crina se considerando senhor de si! Cavaleiro do Universo 

Se considerando uma entidade detentora de originalidade, individualidade, livre arbítrio!!! 

Ou não seria mais seguro supor 
Que como essa realidade toda 
Psicodélica 
Sobrecarregante em sua complexidade 
E humilhante na percepção da nossa natureza tão insignificante e efêmera
Não pode ser enfrentada de frente 
Sem sucumbirmos ao que nossos pares chamam loucura 

E que ao invés disso 
Para tornar o fardo mais suportável
A natureza tenha criado em nós atalhos em forma de ficção que nos permitem exercer a natureza única do intelecto humano 
Sem ser paralisado e esmagado pela mistérios intrínsecos das coisas

Pra isso os papéis:
Homem, esposo, pai, cristão, democrata, capitalista. 
Tão seguros em sua mediocridade mas ao mesmo tempo servindo como vendas diante de uma luz que só poderia nos cegar. 

Como seria então dizer 
"Agora eu acredito" quero me colocar diante do Altar do Deus e consagrar a minha alma eterna a um compromisso sacro santo com a sua alma eterna. E depois de trabalhar pra pagar o financiamento da casa e do carro, criar nossos filhos dando a eles tudo de melhor; eu posso morrer como um homem respeitável, que cumpriu seu papel diante da sociedade e da natureza - e minha alma imortal seria recompensada eternamente na companhia de Jesus e de todos os homens sagrados num lugar que só pode ser o paraíso. Onde reencontraremos todas pessoas de que sentimos falta e teremos outra vez todas as oportunidades desperdiçadas de sermos felizes!!! 

Que ficção maravilhosa 
Que inveja eu tenho de vocês
Crentes 
Cegos 
Conformados
Medíocres 

Quem me condenou afinal a perceber que existe ali nesse arranjo do cérebro uma quantidade de reações químicas, eltricas, térmicas e etc. Capazes de portar, modificar e reproduzir informações, que formam nesse momento uma cadeia de linguagem capaz de navegar de um arranjo neuronal vertiginosamente complicado, através de pontos de luz numa tela touchscreen e através de ondas invisíveis percorrendo torres e satélites até alcançar as tuas retinas e através desses pixels transmitir a você uma informação que gere uma cadeia de reações químicas no seu corpo e REARRANJE o seu fucking cérebro??? 

Quem me condenou a perceber isso e pensar 
Caralho 
A realidade não é aquela versão simplificada que eles pregam nos pupitos, nos palanques, nos altares, nas salas de aula!!! 
O que está acontecendo aqui? 
O que eu sou? 
O que é o Universo??

Como essas pessoas poderiam passar despercebidas? 
Ou
Como poderiam lidar com a realidade se percebessem?? 

E isso tudo posto 
Eu olho para os gurus nas montanhas 
Afastados 
Tranquilos 
Distantes de todas as vaidades 
Realmente acima de todas as futilidades 
E em sua sabedoria melancólica
Proclamando como que a uma causa perdida:
A realidade é uma ilusão 
E eu penso na massa dos átomos e sua circunferência gigantesca composta de energia
E eu penso caralho 
A realidade é uma ilusão 
E porque eu estaria aqui então fazendo esse gigantesco exercício de vaidade, como se eu soubesse mais da realidade que qualquer outra pessoa? 
E como eu poderia me negar a fazer exatamente o que eu faço? 
Como eu poderia me considerar um indivíduo se mal tenho escolha? 
Como poderia me considerar um sábio se no meu exercício de convencimento eu hajo com vaidade e vontade de poder?? 

Não é fácil ser eu, mas eu não tenho escolha 
Eu sei que não é fácil ser você também, mas você não tem escolha 

No futuro quem sabe 
Em seu leito de morte 
Você talvez implore por mais alguns minutos
Obrigado por ter doado esses minutos pra mim 
Eu realmente espero que dê alguma forma esse texto te ajude a perceber que você não tem o leme ou as rédeas nas mãos 
E que na nossa ignorância e insignificância, consigamos cada vez mais abrir os olhos das nossas mentes para nossas possibilidades infinitas 
E que a percepção dessa complexidade atordoante seja de alguma forma divertida pra você. 

Foi muito difícil chegar até aqui 
O esforço de desenhar essa mandala em formato de texto é realmente intenso 
Vou fumar um cigarrinho contemplativo 🤣



sábado, 7 de novembro de 2020

poeirinha

Esse pedacinho de carne 
Que as vezes acha que é um eu
Não vai deixar nenhum legado
Mais duradouro que suas pegadas na praia

Mas esses átomos 
Esmagados no núcleo de estrelas 
E arranjados temporariamente
Em intrincada biologia 
Viveram e viram 
E experimentaram orgasmos 
E teceram mitologias inteiras 
E gargalharam
Ressonando no infinito

E quando talvez 
Uma entidade cósmica se debruçar 
Sobre esse pontinho ínfimo 
No oceano caudaloso do tempo 
Poderia se pudesse
Pensar 
Isso sim é uma vida

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Hoje eu lavei minha boca com vinho 
E sussurrei 
Na fumaça do cigarro 
Dizendo 
Eu te amo 
Eu te amo e isso não pode ser tomado levianamente 
Você deixa meu coração leve 
Você leva meu coração 
Me eleva 
Eu te amo de coração cheio 
Você é o vento fresco que bate no meu rosto 
Você é a paisagem linda em que eu me embriago
Você me enebria
Você me eleva 
Eu te amo 
E isso é lindo 
É bom 
E é puro 
O seu sorriso cristalino 
O brilho nos seus olhos 
Me levam daqui 
Pra um lugar 
Onde eu queria estar 
Um lugar onde somos felizes juntinhos 
Aonde somos parceiros 
Aonde você se abre pra mim 
E aonde somos um 
Somos parceiros 
E estamos juntos 
Esquecendo do mundo 
Eu quero que o vento me leve até você 
E que a brisa leve meu sussurro 
Dizendo 
Eu te amo 
Eu te amo pleno 
Você é minha plenitude 

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

As ondas sobem 
As ondas descem 
O sol nasceu tão bonito 
Hoje? 
A Terra gira 
As vezes parece que devagar 
As vezes olhando pra trás 
Dá até vertigem 
Queria aprender com as árvores 
A fincar meus pés no chão 
Queria que os pássaros me ensinassem a voar 
Que a água me ensinassem a escorrer 
Em troca
Eu ensinaria o mundo a sonhar

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Naquele tapete de mar árvore prédio
Sobre o qual se debruça imponente 
O Mestre Álvaro 
Com seu chapéu de nuvem 
Naquela ponte no céu
Entre o castelo e o sol dourado 
Naqueles navios 
Que circulam entre as avenidas
Naquela curva sinuosa 
Circulando o Penedo 
Naquela praia secreta 
Foi na vigília das ondas 
Que enterrei meu coração 


terça-feira, 25 de agosto de 2020

Statistically speaking there's always a chance 
Of unlikely events to take place 
                                -Detroid: become human

sábado, 22 de agosto de 2020

A natureza sem o homem é solitária 
De certa forma 
Pode-se dizer que o homem é o objetivo da natureza
Pois todos animais sonhariam ser o homem, se pudessem 
Sem o homem não há sabedoria,  pois só o homem é capaz de ser sábio 
Quanto mais afastado dos animais o homem for, mais homem ele é
A educação, a sofisticação e a civilidade são o legado do homem para a natureza 
Quanto mais comedido, mais generoso e equilibrado o homem for, mais ele retribui à natureza o dom da vida  
Sem o homem não há beleza, pois só o homem sabe admirá-la 
Os animais estão todos famintos, lutando a luta da sobrevivência 
Só no verdadeiro homem, a natureza encontra descanso. 

domingo, 19 de julho de 2020

Meus poemas são pedacinhos de mim 
Não são meus 
São eus

Sou mais deles do que o contrário
Não me vejo arquiteto, só operário 
Mas juntos nós somos 
Eu os retiro dessa vastidão 
Dou-lhes formato com as mãos 
E os devolvo 

O sentimento assim solto 
Dança 
Para desaparecer devagarinho 

Mas sua existência, quase secreta
E bastante efêmera 
Tem uma delicadeza em sua insignificância 
Que dá a mim 
A ilusão de ter significado 

quarta-feira, 24 de junho de 2020

This shadow that I am 
Is what is left 
Of your bright burnt

Carved deep in stone
I remain silently 
Waiting for the sun 

To reveal you in my new shape 
Like ghosts dancing quietly 
And blending in a spin 

Untill they become one 

domingo, 21 de junho de 2020

The pain in my back 
Is the only thing 
That keeps my head up 

sábado, 20 de junho de 2020

O dinheiro que eles me deram 
Gastei em cigarro
pra aguentar o que eles fizeram comigo

quinta-feira, 4 de junho de 2020

a poem of fire

All words are here 
Lying invisible in a blank page 
And yet 
I struggle to find them 

I would like to make you 
An irresistible offer 
But it is not 

I would like to promise you 
That you would be safe 
But I can not 

I would like to say that 
That would be the best time in your life 
But I'm not so proud 

I would like to say 
That we would last forever 
But I know no one can say that 

What it is then 
What I ask and offer? 
To be completely honest 
I am not sure

I just wish the blank space 
To turn in wonderful words 
That bring you closer to me 
That make you take a deep breath when thinking of me 
As I do when I think of you 
A poem to make you close your eyes 
And kiss me with the same emotion 
Of two kids in their first kiss 
All over again 
And for us to like each other 
With the very same devotion 

That's it 
That's the formula
I want to write you 
A poem to bring back 
That early feeling 
To reaweke the hope in human kind 
To revive hope 
To stop believing that love is lost
To make the flowers bloom 
The sun shine brighter 
To make you explode on a laugh look at me and kiss taking a deep breath and saying: 
I love you

But I can't 

I lack the talent 
To express how beautiful my feelings for you are 
How sweet and tender you look through my eyes 
I can't say it in a fancy manner 
That every move you make catches my eyes 
And that sometimes is hard to talk and even to breathe when you are around 
Because I am not a poet 
And that would be hard to believe 
Since I am not a kid 

Oh how I wish 
I could put all the light and fire in my heart
in a poem 
And give it to you 
 

quarta-feira, 27 de maio de 2020

It's fucking spring for the Christ sake

When I look for a safe place 
I always come back to my poems 
Between pain and boredom
Unquiet I rest
Whit my chest 
Wide open 
Lifting my tired eyes 
To the stars above 

I would like to cry out aloud 
A song to wake up our generation 
Like a howl to the moon 
Like the thunderous sound of breaking waves 
Like the dance of leaves to the wind 
Like the petals silently postponing its fall
Outrageous, furious, unrelenting 
And also silent, calming, harmonious 
Like the sound of silence 
Or the realisation of a dream

But I can't 

So I gave my back to it all 
And I've chosen the lonely path 
Barefooted between the roots, the grass, and the threes 
Letting the silence inside 
Be flooded with the light from outside
Listening only to the wisdon 
Of the wind and the birds 
Beautiful things that fades in a blink of an eye
 

Like all beauty 
Relies on the fast passage of time 
What is beauty them 
If not the delicate state of a moment 

And what are us 
If not the very air 
That one day will be gone for good 
If not the warmth that will give it up to the cold 

And what are we doing in the between? 
Building houses of cards? 
Chasing ghosts? 
Are your eyes even open? 
We just have today 
The spring is upon us 
Flowers are blooming 
I try to wonder 
Where the butterflies were hiding 
But I forget their absence for now they're here
And here we are 
Cornered by all those fears 
All those echoes 
Saying no in our heads 

Can't you hear the wind telling us to go?
Can't you hear the birds singing for today? 
You're locked in a screen 
And we're losing all the fun 
Spring is upon us
Hurry up 
You only live once
And the only way of living 
Is living today

Turn everything off 
And reconnect 


quarta-feira, 8 de abril de 2020

Ela quer isso 
Ela só não quer isso de você

domingo, 5 de abril de 2020

standing tall like a flower

Eu tô aqui pra celebrar aonde eu estou 
E quem eu sou 

Como uma flor se destacando no alto 
Me nutrindo de tudo que me deixou feliz 
E o que me deixou triste também
O riso é meu 
E a sabedoria é minha também 
Eu sou uma flor se destacando no alto 
E uma nova primavera está chegando na minha vida 
Essas memórias me nutrem
Eu tenho vocês todas 
Oh minhas memórias
Bebo dessa seiva 
Eu tenho você 
Eu conheço você agora 
E sou muito grato por isso tudo 
Eu estou desabrochando outra vez 
Nesse jardim das delícias que é a vida 
Aonde tudo é possível e permitido 
Eu cavei fundo com as minhas raízes 
Sobrevivi a tantos invernos 
E vivi tantos verões
Agora estou pronto 
Pra iluminar outra vez 
O meu polem é fértil 
E eu estou aberto 
Olhando adiante com um sorriso brilhante
Como o brilho dos sóis
Que passaram todos pelos meus olhos 
Se eu fui ruim ou bom 
Eu fui 
Autêntico
Fiel e infiel 
Bom ou mau 
E essa bagagem tem muitas coisas boas e divertidas 
E muita sabedoria
E eu quero mais 
Sempre mais 
Essa inquietude que me move 
E me faz buscar um lugar ao sol 
E eu me sinto pronto 
Pra construir novas memórias alucinantes 
E viver a vida plena 
Nesse eterno verão que se aproxima no horizonte

domingo, 1 de março de 2020

Eu não quero coisas leves

A moda agora é o relacionamento fast food. Você pega, come, goza e vaza. Não se apega, investe pouco e sai satisfeito. Só queremos o momento bom, sem a parte negativa que um relacionamento impõe. Quando estamos bem, a gente sai, da uns beijos, transa e volta a rotina depois. Quando estamos mal, não precisamos confiar em ninguém além de nós mesmos. Sabemos que estamos sozinhos e que é melhor focarmos só nos nossos problemas, que já são o bastante. 

É bom, mas não é isso que eu quero. Eu quero dividir o peso, o sofrimento, quero ter alguém do meu lado nos piores dias e quero alguém do meu lado nós piores dias também. Quero acertar e errar e saber que a pessoa tá ali, me dando suporte. E quero suportar a pessoa quando ela errar também, incondicionalmente. Eu não quero variar o cardápio, quero que o sexo e a intimidade cresçam, quero conhecer cada detalhe do corpo da pessoa e que ela conheça o meu também. O que há de feio e bonito. Incondicionalmente. 

Eu quero investir tudo, entregar minha vida. Se der errado, eu quero me desgraçar. Essa vai ser uma aposta pesada, porque eu sei que o prêmio, o amor de verdade, vale a pena. Eu não quero um beijo, eu quero um suspiro tão intenso que me arrebata do chão, me leva ao céu. Eu não quero um orgasmo, eu quero gozar e ficar abraçadinho depois, amando a pessoa que se despiu de corpo e alma pra mim. Eu não quero fazer meus planos, eu quero fazer nossos planos e saber que estaremos ali. 

Eu não quero algo leve, eu quero algo concreto. 

Eu não quero ser simples, eu quero tratar as coisas complicadas em seus pormenores. Quero ter paciência pra ponderar sobre tudo num trago longo do cigarro. Eu não quero simplificar nem complicar as coisas, quero tratá-las como elas são. 

Eu não quero viver as expectativas dos outros, eu quero viver as minhas expectativas, mesmo que isso me faça ser pesado, complicado. Eu gosto do pesado e do complicado, porque esses são atributos do universo, não meus. Quem consegue ver a vida como ela é, ou pelo menos tenta, é melhor do que quem vive de olhos fechados. Sentir e pensar, melhor que os outros animais, é o que nos faz humanos. Logo, quem pensa e sente mais, é mais humano. 

Eu não quero anestesia pra aliviar a dor, eu quero sentir a dor. Num mundo como esse, só faz sentido tentar ser feliz sendo triste. Porque existem muitas coisas que são dignas da nossa tristeza e nos trabalhamos com o que temos. Sem ignorar nada. 

E quando a leveza vier, da exata medida das coisas, não precisaremos tentar ser leves, nos apenas seremos. Já que "pensar é estar doente dos olhos" eu quero abrir os olhos e quero deixar o Oceano da realidade entrar de uma vez e inundar a minha vida. 

Eu quero ser eu mesmo aonde eu estiver e eu quero amar as pessoas como as amo, falar o que eu sinto e ser compreendido. Porque sempre seremos inexoravelmente livres e não existe outra forma de ser, isso é intrínseco de nós. E quando o interesse genuíno se manifesta, ele tem que ser espontâneo e natural. A gente tem que se deixar ir e se formos juntos, isso tem que ser algo que não tentamos, mas apenas somos. 

palavras mágicas

Eu vou pegar uma ideia de agulha 
E vou atravessar no seu argumento, sem interrompê-lo
Vou passar a linha de raciocínio 
E dar um nó
E assim vou montar um bordado 
Que te mostra a gente no futuro 
Dançando nua diante da vida 
E você vai ver 
O que eu vejo 
E eu vou ver 
O que você vê 
E a assim uma imagem vai brotar 
Desse novelo de ideias 
E como num passe de mágica 
As palavras encantadas vão vencer o desencanto 
E a gente vai cantar juntos 
A leveza que é 
Deixar-se ir 
Deixar-se ficar 
E estar com as almas desnudas 
E entregues 
Na perfeita comunicação 
Eu não quero tirar vantagem de você 
Nem quero que tires de mim 
Eu não quero dar nem receber 
Mais do que merecemos 
Mas eu quero 
Sua cabeça conectada na minha 
Porque sozinho 
É tão difícil caminhar 
E é difícil não falar 
E não se conectar 
O mundo fica cinza assim solto 
"A felicidade só é verdadeira quando compartilhada" 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

True light-heartedness

true light-heartedness begins with an appreciation of one's utter cosmic unimportance and nullity: nothing we have ever done, said or thought matters in any way. It's only the monstrous illusions of our ego which give us an impression that we count, and then torture us that we count and torture us that we don't count enough. Furthermore, no one will ever particularly understand us or love us properly - and that isn't a personal curse, but an iron-clad fact of nature wich we would do well to stop kicking against and to be constantly disappointed by. Everything we deeply want either will not happen or will be unsatisfying when it does. We must stop crying as if any of it really mattered or there ever was another way. We must pity ourselves and then change tack. The tragic view is too ok obvious. Being miserable is too predictable. Now let's surprise ourselves with a little irresponsible laughter, the kind it can take a lifetime of sorrow to perfect. 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Aqueles pobres meninos

O frei criou um vídeo, de um menino em bandagens, ele tinha feridas como queimaduras, na face, que era a única parte exposta. Dizia ter doze anos, mas parecia ter muito menos, em sua cadeira de rodas. O que impressionava era sua esperteza, alegria e fé. E o frei, de dentes branquíssimos, dizia "tá vendo pessoal, valorize sua vida". 

Eu sei que ninguém quer saber, mas eu gostaria de anotar algumas palavras sobre isso. 

Em primeiro lugar, as religiões todas são ficções que criamos pra sustentar uma realidade. Algo que não anguentariamos se não fossemos maduros o suficiente. Em segundo lugar, o quanto podemos aprender com essa entrevista. O que ela diz sobre a vaidade do frei de dentes branquíssimos que se coloca como bom, sábio, carinhoso. O que ela diz sobre o menino, que no brilho emocionante dos seus olhos não revela senão esquizofrenia. Podemos imaginar alguns pensamentos dos expectadores fiéis: meu Deus que horror, mas Deus é bom, sabe o que faz, a alma dele tá salva, mas Deus me livre merecer isso, o menino não fez nada pra merecer isso, mas Deus é sábio. 

Não me entenda mal, a ignorância pra esse menino é uma benção. Seria difícil falar pra ele: você deu azar, nasceu com uma doença rara, vai degenerar, sofrer e morrer. Não há razão pra isso e esse será o seu fim inexorável. Uma criança de 12 anos e sua família. O nosso instinto é viver e principalmente, garantir a sobrevivência da prole. Estamos programados pra garantir a sobrevivência da espécie. Nessa diretriz biológica, a religião ajuda muito, dizendo: sempre há esperança. 

Mas isso não é bem verdade. Nem sempre há um propósito por traz das coisas. O problema é que a realidade tão evidente, é bastante cruel e talvez até insuportável. A maturidade é aceitar que não somos especiais, que não temos um espírito imortal, que não existe uma inteligência por traz da natureza, que a vida e a Terra em si, representam pouco pro universo. 

Com isso, temos que aprender a viver, buscando um sentido solidário, fraterno, de buscar a saúde e satisfação coletiva. E para tanto, talvez não estejamos prontos pra admitir as verdades simples e escancaradas que ameaçam destruir os mais imaturos. 

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Não sou um homem fácil

Eu não sou um homem fácil
Nem quero ser
Eu que amo tanta gente
E não gosto de quase ninguém
Escolho a dedo quem eu converso
Mas eu não escolho é coisa nenhuma
Algumas coisas vão
E outras nunca serão

Eu já pensei muito
E eu já senti muito
E agora tenho em mim
Tudo isso condensado
Em vasta fauna de sentimentos

Eu fui formado pelas pressões tectônicas
Se sou duro, se brilho, se me estilhaço
E se eu decidi uma coisa
Não tem sermão que adiante
Mas eu não escolho é coisa nenhuma

O que decidi é só ser
Eu não conquisto
Eu não sou conquistado
Eu não me aturo
Mas acho uma sorte quem me tem ao seu lado

Eu que sou o menor dos homens
E superior à maioria deles
Prefiro mesmo
A minha própria companhia

Quando me dou eu sou um tesouro
Quando não me dou
Eu só não estou


Não quero machucar mais ninguém
Além de mim mesmo
Porque sendo assim tão natural
A gente percebe que não pode evitar
Ser quem se é
E se a sensibilidade me fez maduro
A maturidade me fez sensível

E sensível demais
Eu vou pensando e sentindo
E sendo
Eu mesmo me descubro
Enquanto vou acontecendo

Se eu pareço às vezes como um bicho
Ou se eu me comporto como fumaça
É porque eu sou essas duas coisas

Eu sou uma criança
Eu sou um ancião
Eu sou um lobo
E eu sou um bobo

Mas acontecendo eu vou me realizando
E não forço nada, sigo deslizando
Eu não vou pra onde o vento me leva
Escolho bem as minhas batalhas
Mas eu não escolho é nada
Brota de mim algo que eu também desconheço
E sobre coisas que os outros nem notam
Eu fico pensando, pensando

E se eu estou tão calado
É  que as palavras não bastam
Pra tempestade que arrebenta o meu peito

Se pareço louco
É porque eu desprezo a razão pequena
E dispenso a explicação reduzida
Se você precisa das palavras
Sinto muito
Eu não as possuo
Eu sou um poeta do silêncio
Um ilusionista apaixonado pela Verdade
Eu não tenho tempo para banalidade
A pequenez não me interessa
Eu busco mesmo
É minha própria transcendência

E assim eu vou sendo
Vou urrando, vou calando
Vou me debatendo
E vou evaporando
Até que minha história
Como tocha quente
Esteja consumada
E quando as cortinas da peça da minha vida se fecharem
Eu serei
O único na platéia
E antes que as luzes se apaguem
Eu quero estar aplaudindo de pé