quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Viadinhos nas montanhas

Tú veras o que o destino nos reserva minha doce jovem, 
O sol se projeta sobre as montanhas nevadas derretendo o gelo com sua luz doirada. 
Os cervos já vasculham o bosque, brincando entre as águas frescas que se avolumam. 
Nosso amor será como estes cervos, brincaremos inocentemente à luz do verão!

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Mulheres de Klimt


Hostile Powers 

Pallas Athenas

 
Goldfish

Allegory of Sculpture

“Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro 

Quem é que pensa ou sente, 
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa. 

Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo. 

Existo todavia
Indiferente a todos
Faço-os calar: eu falo.
Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto 

Disputam em quem sou. 
Ignoro-os. 
Nada ditam
A quem me sei; eu escrevo.” 

Fernando Pessoa.

NADA

Nada em mim se enche
Permaneço inflado
Rubro horror de mim mesmo
Jogado contra a cara do mundo

Não me serve um anjo torto
Quanto mais olho para uma pessoa,
mais vejo seus defeitos
Você não serve pra mim
Assim como ninguém.

Deixe-me sorver teu mel
Para depois descarta-la
Tal como favo imprestável
Tu só serás o que for de bom pra mim
De resto, nada.

Meus pés cansados
Brigam e se empurram
Espalhado eu vou
De encontro ao chão
Só para sentir o gosto de terra

De longe me observas
Com teu rosto de mármore
Sem virar a face, seus olhos me seguem.
Com reprovação mede cada movimento

Estou só
Estou perdido
Estou sujo de lama até o pescoço
Estou com olhos embotados de lágrimas
Quero saber o que quero


Nesse mais um ano
Só quero viver mais um ano
Como um animal que luta pra continuar respirando e trepando.
(escrito na data de meu aniversário, em 2013)

Waking life


O homem autodestrutivo sente-se

totalmente alienado e solitário.
Ele é um excluído da comunidade.
Ele diz para si mesmo:
“Eu devo estar louco” .
O que ele não percebe é que a
sociedade, assim como ele próprio…
tem um interesse em perdas
consideráveis, em catástrofes.
Guerras, fome, enchentes
atendem a necessidades bem-definidas.
O homem quer o caos.


sábado, 19 de outubro de 2013

Nefandus

Com os olhos arregalados olhei ao meu redor
Percebi que a realidade era uma ilusão
E sob essa ilusão
Rondava uma fera terrível
Uma inteligência não humana
Que não veio deste mundo
Mas do mundo real
O mundo das aparências era como a superfície do mar e ali havia um tubarão

Senti enquanto ela se aproximava e me engolia
Seus dentes afiados retalharam minha alma
Descobri o que era a dor
e o medo.

Subitamente
Perdi toda noção de escala
O abismo se abriu pra mim
percebi-me uma pequena molécula de carbono e hidrogênio
poeira cósmica
contemplando o início
ou o fim.

A onda de energia cósmica explodindo em todas as direções
Era tão magnífica e absoluta
Que chamá-la de gigante seria resumi-la ao ridículo.
Ela varreu o abismo
E criou o cosmos

Relicário imenso de joias flutuando no vácuo.

Minha consciência percorreu nebulosas e estrelas
Vastidões infinitas

E percebi

Não há sentido por trás disso tudo
E tudo
Se deteriora à partir do momento da criação.
Surgimos do caos e seremos reduzidos ao caos
o caos dançará sobre nossos cadáveres
a morte ri de nossas ambições.

Somente o fim é uma constante
E nada tem uma essência
Que não seja a entropia e o caos.

Percebi que aquele que me predou
Libertou-me da ilusão de ordem e bondade
A desolação foi substituída por um profundo desejo

De abraçar o fim do universo
Como única fonte de paz. 





sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Arrebentação



A visão de uma onda arrebentando nas pedras
também me arrebenta

Prendendo o ar
admiro a força
que surge do nada e se move indômita
sem precisar de um propósito ou uma razão
alheia à humanidade que a percebe onda


Também viajo em sua espuma fresca
por um instante parado no ar
antes do mergulho vertiginoso contra as rochas

Mas nas onda eu só brinco de me esfolar, ser arrastado e morrer.

A visão de uma ondas arrebentando nas pedras
também me arrebenta

As ondas que arrebentam nas pedras são uma metáfora do mundo.

Findamundo

Carne feia
feia carne
me liberte

penso antes

mas percebo
a imaginação é
a carne

querendo libertar-se de si mesma.

o tempo que a mata aos poucos
anuncia sua morte definitiva
quando só poderei habitar
o sonho

dos outros.

o fim resume tudo
e não nos produz síntese
nem conselho
que nos mostre a saída
da finitude
que tudo finda.

enquanto isso
vivo
no suspiro interrompido
que respira outros mundos
esquecendo o fim
sem
jamais
adiá-lo.

arte é imaginar o infinito




sábado, 5 de outubro de 2013

Nada Mais

Se eu conseguisse parar de pensar por alguns instantes pra poder viver e deixar essa incessante vontade de te querer que me corrói por dentro e queima como fogo. Essa profunda amargura e tristeza
de saber que eu já fui sua, mas você não me pertenceu. Essa angústia que me perturba a cada instante, pensamentos que não saem da minha mente. Momentos que agora não passam de nada além de lembranças. E agora, enquanto tento dormir, um filme se passa pela minha cabeça. Cada gesto, cada detalhe, cada beijo, cada toque, cada palavra, cada olhar... Desde o instante em que te conheci, essas lembranças viraram meu tormento. Os sonhos viraram pesadelo. Uma peça pregada pelo destino. Minhas noites e meus dias se tornaram torturantes, as horas se arrastam e minha mente quase entra em colapsoQueria poder parar de pensar só por alguns instantes...
 
[fizeram estes versos para mim]

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Nada

(Egon Schiele, A morte e a mulher, 1915)

Nada tenho a lhe oferecer.
Nenhum lar além do meu abraço acolhedor.
Nenhuma bebida além da luz dos meus olhos. 
Nenhum alimento senão o alento de minhas palavras. 

Não posso te aquecer, 
senão com o calor do meu corpo.
Não posso te sustentar, 
senão com meu sentimento mais profundo.
Não posso te encorajar,
senão a ser humilde e singela, 
vivendo como a grama sob nossos pés ou a borboleta sobre nossas cabeças.

Nada lhe darei,
além de meu amor, sincero e eterno.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

O que é você?


Os raios da manhã cortavam os vapores tépidos do chuveiro.

Sentado no mármore eu te observava, tal qual um sátiro olha uma ninfa em uma nascente.

Porém não sei, se eu era, ao invés disso, um descobridor de matas virgens me deparando com uma índia – de tez morena, nudez impudica e inocente.

Poderia ser também, a realização de uma fantasia lasciva e proibida, a qual não ousarei relatar. Ou quem sabe, não era este o encontro romântico tão esperado e não sejas tu, a amante eterna com quem dividirei meu leito.

A lembrança daquela manhã também se confunde com a da outra noite, quando fizemos amor neste mesmo palácio, onde as águas brincavam em nossos corpos e a luz da chama crepitava.

De fato, o único pensamento certo é teu olhar: firme, sensual, estático, poderoso e ainda mais, de um mistério profundo e insondável.

Afinal,
o que é você?
minha deliciosa
esfinge,
meia mulher,
meia leoa

Não sei se você existiu ou se te sonhei. 



domingo, 30 de junho de 2013

Poema antigo para guardar

É Briga é paz
olhando nos olhos
palavra não mais

É um sentimento estranho
o que você tem
tristeza sem tamanho
É o que eu sinto também

Vamos fazer as pazes assim não dá mais
Chega de um ou de outro correndo atrás
Chega mais perto
vem me beijar
sabe que é para sempre
que eu vou te amar

Briguinha tempero
sopapo sacana
desaforo estorvo
vamos pra cama

Ventilador



Nesse momento pavoroso, em que, olhando para um teto desconhecido, revisito meus últimos dias, recordo-me dos anjos depenados cujos corpos desnudos conheci. Visitei vales e montanhas, curvas, matas e cavernas. Mas não pude encontrar ali, nenhum coração. O único sentimento era a tristeza. E os únicos sons - ecos estarrecedores de um suspiro, um chamado desesperado e de um berro no escuro.  

O gosto amargo do tabaco não me incomoda tanto quanto o sabor desses lábios enegrecidos pela vulgaridade. Tudo é superficial. Até mesmo o sorriso que passará pelos seus lábios enquanto me lê. Acha que me entende? Que compartilha comigo essa dor, ou pior, que tua pretensa experiência pode me oferecer um conselho? Guarda pra ti tuas palavras, não sabe o que penso.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Sob uma máscara de bela porcelana

O corpo que caminha trôpego não vacila no passo, nem mesmo perde o gingado.
A cabeça que gira não sai do lugar, não roda, não rodopia, nem vira cambalhota.
A lágrima que se acumula sob os olhos não brota, não rola, não cai nem chove.
O riso que está morto não aparece amarelo, não deixa de brilhar, nem de convencer.

agora

Quando a solidão me toca; meu corpo se contorce e enverga de dor
Quando o insolúvel me atinge; minha cabeça pende de um extremo ao outro, entre desesperos
Quando a noite invade; os dedos buscam o peito, tentando abrí-lo e expor o coração que já sangra.
Quando o silêncio se impõe; as lágrimas não são ouvidas mas se fazem sentir

A chuva lá fora não se compara a minha tormenta

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Linhas e limites

Engraçado isso.

Eu não achei que ir até ali era uma opção,

não sabia que podíamos chamar a demolição.

Muitas vezes eu brinquei de índio, atirando flechas em seu coração.

Me pendurei no parapeito, pra rir enquanto te assustava.

Mas nunca quis me machucar nem te ferir.

Não pensei que poderíamos ir até ali.

Demolição



Para se desconstruir um belo edifício, é preciso cuidado
Primeiro temos que passear por ele e encará-lo bem
Depois decidir:
O que queremos,

Apagá-lo da existência para que dê lugar a algo novo?
Reformulá-lo para que possa renascer em si mesmo?
Ou desmontá-lo com cuidado, permitindo sua reparação e reconstrução?

Algumas vezes só queremos destruir, inclusive a nós mesmos.
Outras, pensamos em retirar uma parede e tememos que tudo desabe.
Há ainda os sábios que preferem investir seu tempo simplesmente restaurando o lugar.

As paredes são frias, estáticas, imóveis.
A luz que atravessa os vitrais não vê a cor que projeta na poeira do lugar.
O eco vai, sem saber que volta.

A sabedoria que não está nas coisas, pode estar em você

segunda-feira, 18 de março de 2013

Minha Maldição!

Não haverá céu para lhe salvar
Não haverá inferno para te condenar

Nada satisfará teus desejos e não encontrarás paz
Tuas conquistas não parecerão nada em vista do que não lhe pertence

Nenhum braço lhe trará o eterno aconchego
Nenhuma casa será teu lar eterno

E assim padecendo, morrerá aos poucos, do mal que causar a si mesmo.





sábado, 9 de março de 2013

Este beijo teu

Encostados no casarão secular, numa rua iluminada demais para esse tipo de crime, outro casal se beijou. Bem que podia ser meu este beijo teu. Tive seus olhares, seus toques de mão, suas gargalhadas e até um abraço, mas isso não me bastou. Queria por um momento capturar tua alma num suspiro. Viveria num deslumbre todo futuro com você e depois, tenho certeza, caminharíamos para rumos particulares. Mas seria fogo! Fogo que se gosta de sentir, que se contorce num espasmo, que treme na base, que tira o ar, fogo que queima e dói depois que apaga. Ó como quero sentir essa dor.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Tédio

o cimento é o tédio da forma
o calor é o tédio do clima
o silêncio é o tédio do ouvido
a solidão é o tédio da companhia
e tudo a minha volta é cimento, calor, silêncio e solidão

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Centrífuga

Sempre que deito cedo, a madrugada vem me visitar.

Onde tuas curvas vão me levar?

Na faísca das espadas, no horror da ferrugem e no vento veloz, tento escapar. 

Mas lá, no final da reta, novamente veio me visitar.