terça-feira, 3 de abril de 2018

Chocolate

Já faz um tempo agora
Que provei com espanto
A sua doçura quente
Ardeu enquanto descidas pela minha garganta ressequida
Me enchendo de nova vida

Com renovado prazer
Me perdi em suas curvas
E na seda da tua pele
Eras pra mim natural

Como um casal de feras selvagens
Nos reconhecemos no sorriso feroz

Mas também como o mais humano dos casais
Quisemos bem um ao outro
E nos despimos de todas as máscaras

Com reconhecimento mútuo
E genuína admiração
O tempo correu rápido pra nós
Caudaloso como as águas daquela cachoeira

Nunca te escrevi um verso
Porque sentia que não precisava

O nosso carinho delicado
Sempre me bastou
E foi sempre tudo que precisava

E as pessoas que tentavam se meter entre nós
Nunca alcançaram a distância das nossas peles
Que se tocavam desnudas

Pudesse eu
te tomava nos braços
Como Eros tomou Psiquê
E alçaríamos vertiginoso vôo sobre o mar
Alcançando na distância
Um lugar seguro pra nós dois

Devia eu temer o tempo
Tão diferente pra nós dois
Você na flor da tenra idade
Eu lobo velho
Cheio de cicatrizes

Não consegui confiar em ninguém
Nem mesmo em você
Que se entregou tão completamente

Vi seu sorriso quando entrou no carro
Hoje e há um ano

A luz brincava em seus cabelos cor de chocolate
Vibrando com o sonoro sorriso dos inocentes

E eu
Premiado com tamanha fortuna
Não pude me ver merecedor

Você bem me disse:
Pudesse eu me ver pelos seus olhos
Talvez eu conseguisse me amar também
E confiar
Que o futuro nos guarda lá longe

Na sonhada linha de chegada
Através da qual nossas vidas
Se converteria em eterno riso e eterno gozo

Mas eu não pude ver e ainda não posso
Eu olho para os lugares que eu gostaria de estar
E você não está lá

Talvez esteja um dia
Além do horizonte que hoje eu vislumbro

Teríamos a força, a serenidade
Para gravar no tempo da eternidade
Um de nossos retratos tão lindos?

Eu já não sei me prender
Me agarrar
Sou levado pelo vento
E pelos instintos naturais de quem sobreviveu a rigorosos invernos

Mas aqui estamos hoje
Ainda sem sabermos nos comunicar nesse nível mais elementar
Que dispensa palavras

Presos a esses modelos todos
Que tentam nos engessar
E nos retirar daquele espaço natural
Que desbravamos juntos

Eu não sei para onde agora o vento vai nos levar
A lua está cheia
O ar trás o sal das ondas do mar
E as flores viscenjam
A própria natureza faz amor

E hoje, nesse dia lindo
Você já não está colada em mim
Como gostaria que estivesses

Por isso eu vim aqui
Rabiscar pela primeira vez
o seu nome
Que esteve na minha boca esse ano inteiro
Lorrany
You took me Low
And you got me high

Estás gravada no meu sangue
Como alguém que habitou o meu ser
E que será sempre motivo
Para meus olhos já ressequidos
Brilharem refletindo a lua

Pudesse eu ter essa potência
Para te trazer comigo ou ir contigo
Sem ter medo ou nojo de ninguém
Caminharia naturalmente ao seu lado
Dançando e rindo sob os sóis todos

Mas a vida não nos fez para amar
O amor se realiza como o fogo
Sem deixar nada por onde ele passou
Talvez você não seja o anjo que eu mereço e espero
Mas você é o anjo com que sonhei

Amanhã na luta que mais um dia nos apresentará
Eu posso não estar mais em contato com você
Mas saibas sempre que aqui tens refúgio de alguém que te quer bem

Acima da posse dos amores menores

Esse velho lobo
Ranzinza e impaciente
Tomou-lhe como fêmea
E este homem que se sente mais velho do que é
Um dia quase teve a esperança
Necessária para impor sua vontade
À uma realidade tão cruel

Corre agora minha linda
Com sua cor de chocolate
Sacudida pelo vento
Corre célere de encontro a teu destino
Estando ou não
indo ao meu encontro

Daqui a muitas luas, qualquer coisa que me lembre seu nome
Trará aos meus dentes afiados
A luz do teu sorriso

Nenhum comentário:

Postar um comentário