quarta-feira, 25 de abril de 2018

Eu

Duas coisas enchem a alma de admiração e de respeito sempre renovados e que aumentam à medida que o pensamento mais vezes se concentra nelas: acima de nós, o céu estrelado; no nosso íntimo, a lei moral. Não é necessário buscá-las e adivinhá-las como se estivessem ofuscadas por nuvens ou situadas em região inacessível, para além do meu horizonte; vejo-as ante mim e relaciono-as imediatamente com a consciência da minha existência.
-Kant

Minha mente sempre é uma tempestade
desloco meu pensamento pra cada fibra
do que chamo de corpo
e tento escrutinar cada parte
desse cérebro intricado
pensando até sobre a origem desses pensamentos
quantos neurônios?
quantos impulsos elétricos?
quantas células?
quantos hormônios
decidem por mim
no que é que eu penso
minha mente me parece um mar tormentoso
navego somente sua superfície
das profundezas vem os desejos
assaltam-me os impulsos todos
as decisões na verdade
me vem prontas
embora por vezes custe a admiti-las
e assim eu sigo
como uma nuvem sobre esse mar revolto
e o homem que sofre as consequências
não parece por vezes o mesmo
que agiu conforme os desejos
e dentro de mim mora o homem de ontem
e suas raízes profundas se estendem
até o homem de amanhã
nesses padrões eu repito
o que eu aprendi de ancestrais remotos
talvez gravados nas raízes que germinaram aqui agora
talvez passados em cada gesto dos meus pais
e dos meus muitos mentores
essa confluência caudalosa
jorra pela janela do meu ser
e assim me pareço
cada vez mais
como uma ficção que esse Ser conta a si mesmo
mais me valeria talvez
acreditar em espíritos
duelando pela minha suposta alma imortal
mas a carne destituída de mística
não me é menos misteriosa
pelo contrário
o mistério se aprofunda
quando visito salões em mim
que não deveria escrutinar
e nessa tempestade
o que existe dentro de mim
não parece menos irreal
do que o que existe fora
por vezes a luz me engana
os sonos e os cheiros me trazem memórias
que se impõem ao que vem do Fora
e a maneira como percebo
parece mais criadora
do que a natureza inata
das coisas que afinal percebo
tento me fechar
me negar
me deixar esquecer
e tentar somente
perceber
como alguém que não agita as águas do próprio destino
mas que antes
se deixa levar
constantemente assaltado por ventanias que me arrastam
de um lugar para o outro
o tempo entra no meu mundo
modificando a paisagem
e eu não sei o que sou
acho que simplesmente aconteço 

Nenhum comentário:

Postar um comentário