Essa noite
meu amor me visitou
e o sorriso dela é tão doce
quanto o gosto amargo que deixou
E o brilho do seu cabelo é tão lustroso
quanto é escura a noite que se seguiu
E o calor morno que me invadiu
é tão terno
Quanto é terrível a sombra
que após isso me engoliu
Sua presença virou aquele vazio sólido
que me encerrava de todos os lados
quando acordei a certeza me acertou
como um balde frio no peito
em plena noite invernal
ali fiquei
atônito
encolhido
trêmulo
o último homem num mundo de escuridão total sem estrelas
A solidão somada
àquele sentimento de merecimento
me assaltou como fariam os Quatro
mas infelizmente
ainda não estava morto
quantas noites cabem numa noite?
quantos invernos se escondem numa lua crescente de verão
afinal, quando o sol nasce?
está tudo tão quieto
tenho medo de botar os pés no chão
e cair pra fora da cama
naquele espaço entre os mundos
acho mesmo que finalmente o sol se apagou
a lua pálida nem percebeu
observou passiva
enquanto a Terra toda se cobriu
da neblina gélida da evaporada água
tudo está ao contrário
flutuando em suspensão
eu sou uma esfera fosca
rolando rolando no chão
sempre rumo ao centro
e à inanição
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