Mas é o amor sexual que se revela mais claramente como ânsia
de propriedade: o amante quer a posse incondicional e única da pessoa desejada,
quer poder incondicional tanto sobre sua alma como sobre seu corpo, quer ser amado
unicamente, habitando e dominando a outra alma como algo supremo e
absolutamente desejável. Se considerarmos que isso não é outra coisa senão
excluir todo o mundo de um precioso bem, de uma felicidade e fruição; se
considerarmos que o amante visa o empobrecimento e privação de todos os demais
competidores e quer tornar-se o dragão de seu tesouro, sendo o mais implacável
e egoísta dos “conquistadores” e exploradores; se considerarmos, por fim, que
para o amante todo o resto do mundo parece indiferente, pálido, sem valor, e
que ele se acha disposto a fazer qualquer sacrifício, a transtornar qualquer ordem,
a relegar qualquer interesse: então nos admiraremos de que esta selvagem cobiça
e injustiça do amor sexual tenha sido glorificada e divinizada a tal ponto, em
todas as épocas, que desse amor foi extraída a noção de amor como o oposto do
egoísmo, quando é talvez a mais direta expressão do egoísmo.
"Às vezes bastam óculos mais fortes para curar um apaixonado"
ResponderExcluir22. Quem sofre mais?
ResponderExcluirApós uma desavença e disputa pessoal entre uma mulher e um homem, uma parte sofre mais com a ideia de ter magoado a outra; enquanto esta sofre mais com a ideia de não ter magoado o outro o bastante, e por isso se empenha depois, com lágrimas, soluços e caras feias, em lhe amargurar o coração.
"27. O amor deseja, o medo evita. Por causa disso não podemos ser amados e reverenciados pela mesma pessoa, não no mesmo período de tempo, pelo menos. Pois quem reverencia reconheceo poder, isto é, o teme: seu estado é de medo-respeito. Mas o amor não reconhece nenhum poder, nada que separe, distinga, sobreponha ou submeta. E, como ele não reverencia, pessoas ávidas de reverência resistem aberta ou secretamente a serem amadas."
ResponderExcluir30. Amor e dualidade
ResponderExcluirO que é o amor, senão compreender que um outro viva, aja e sinta de maneira diversa e oposta da nossa, e alegrar-se com isso? Para superar os contrastes mediante a alegria, o amor não pode suprimi-los ou negá-los. — Até o amor a si mesmo tem por pressuposto a irredutível dualidade (ou pluralidade) numa única pessoa.