quarta-feira, 19 de abril de 2017

Agora vem o estranhamento

muito bem treinados
no desapego

nada importa
finalmente
podemos nos dedicar
ao que não importa
finalmente
descartar as dificuldades
nos eximir do fardo do amor
enterrar toda dor
seguir o caminho fácil
da frivolidade
poderemos
finalmente
não amar de novo
jamais amar de verdade
tentando não nos entregar
e falhando de novo
tentando não nos iludir
falhando de novo
fingindo
até acreditar
finalmente

Nos esbarrando na rua
o olhar incomodado
foi aquele ali
o meu namorado?
foi aquele corpo que abitei
pra ele me despi
pra ele me entreguei?
foi ele quem amei?
mal o reconheço
nem me lembro
aquele esboço imperfeito
caído atrás da estante
me encontro refeito
não hesito por um instante

passo reto
já não tenho afeto

finalmente
podemos nos dedicar
ao que não importa

mergulhar em alguém é difícil
provar daquele lodaçal
sabendo que até o melhor
pode também ser mau
e que na turbulência das noites tempestuosas
o outro parece fragmentado
não sabe mais dizer
o que é certo ou errado
o egoísmo é a única lei
que de agora em diante
eu seguirei
buscando minha própria satisfação
não acredito em amor mais não

o amor machuca
o amor nos quebra
o amor não existe
mas outros amores insistem
em bater na porta do peito
por ele perdi o respeito
outros amores existem

A balança do amor tá quebrada
de repente não tem peso
o que fizemos de bom
não vale mais nada
e cada pequeno erro dá o tom

passo reto
já não tenho afeto

finalmente
podemos nos dedicar
ao que não importa

e ele é só,
mais um estranho com quem tive uma história
que agora não importa



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