Esses dias me perguntaram o que eu quero. Eu podia dizer que quero tudo, ou que não quero nada, os dois seriam verdade. Respondi quero nada. Contrariada, minha interlocutora me perguntou o que me faria feliz. Refletindo, respondi que eu acho que a ideia de felicidade é uma armadilha.
Parando pra pensar agora, decidi escrever esse textinho pra quem sabe ler mais tarde. O problema da ideia da felicidade é que ela sempre puxa a gente pra uma ficção de futuro que quase nunca se concretiza. Ou quando vem, sabemos, passa voando.
Eu sempre me impressionei com a capacidade humana de se adaptar, somos elásticos, maleáveis e resilientes. Acho que a gente se adapta também com uma situação confortável, que se fosse novidade, nos faria feliz.
Agora por exemplo, eu tô deitado numa cama limpa, de banho tomado, saciado, não sinto nenhuma dor, tenho saúde, plenas faculdades físicas e mentais. Pensei em quantas pessoas colocariam um ou mais desses itens, em suas listas. Mas da mesma forma que elas, eu também me sinto incompleto.
Eu queria por exemplo, que a mulher desejada estendesse sua mão pra mim e que eu pudesse ser minha melhor versão com ela. Sempre tem uma paixão. Mas vale lembrar que, quando fui casado com uma mulher maravilhosa, o que eu queria era viver essas coisas que agora vivo. Talvez ela não fosse a "pessoa certa". Mas acho que a gente nunca tá satisfeito mesmo, e que não tem pessoa certa.
Talvez devêssemos então nos desapegar dessa ideia de felicidade, pq parece mesmo que ela é uma armadilha, que leva a gente daqui pra um lugar de fantasia. Talvez essa pulsão de querer seja algo necessário pra continuarmos vivendo, ou talvez não querer nada seja uma chave, pra vivermos exatamente o que temos como presente.