segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Sem ter um futuro ou um passado,
Ando perdida.
Pois nada me pertence
E não pertenço a nada.
O ilusório sentimento de ser única,
Me mantém viva.
Não falo o que penso
Mas quero que pense o que falo.
Minhas certezas,
São minhas tristezas.
Vivo entre os desconhecidos,
Pois só assim e assim só,
Sou feliz.

(C. 06/12/15)

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

maré do amor

Vamos subir Vamos descer Amar é mar, em tempestade No mais alto do amor, Vemos o etéreo céu no horizonte No mais baixo do amor, sentimos calafrios vertigem medo Vamos subir Vamos descer Amar é balançar, na rede Sossegar a cabecinha no ombro ou brincar de ser criança Vamos subir Vamos descer Amar é dançar juntinho grudar suar empurrar rodar Vamos sorrir Vamos sofrer Amar é Mar Balançar Dançar

                                                      Maré Alta
Maré Baixa
                                                          Encheu
Esvaziou
                       Tudo
                                 é
                                    movimento

M
    a
       r
         é
           d
             o
               a
                 m
                    o
                       r

Quando
bem vestido e perfumado
Tomo sua mão
Um choque percorre minha espinha

Sim
Aqui há um animal
Feito de carne e osso
Bile sangue
Aqui existe um animal insaciável
Pensando em você. 
Milhões de neurônios
Pulsando com a sua imagem.
Se revirando na cama
Olhando para todos os lados enquanto caminha
Pensando em te ver
E em tomar você
Na relva noturna
Da maneira mais primitiva.
E toda abstração de que sou capaz
É pra resolver apenas esse problema:
Como fazer
Pra que sejas minha?

terça-feira, 10 de novembro de 2015

O velho lobo e a corsa branca

Nesse jardim ressecado
as veredas realmente se bifurcam
quantos fui?
e quantos sou agora?

olhando em duas direções
há pequenas pegadas
e pegadas maiores
e há você

marcada da mais alva brancura
como a neve que ainda não tocou a lama
Casta é sua inocência
e natural é o teu sexo
seu riso parece uma pequena cascata
que murmura frescor direto da fonte

eu, velho lobo
no final do inverno
com olhos vidrados
e a bocarra escancarada
em grossa saliva

já não estou na antiga forma
mas sei que a carne pode ser encontrada
perto da primeira fonte

você corsa arisca
fique esperta
faça seu melhor
porque quando eu atacar
será o seu fim.

domingo, 25 de outubro de 2015

Tarde de Maio


Como esses primitivos que carregam por toda parte o maxilar inferior de
seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,
outra chama, não-perceptível, e tão mais devastadora,
surdamente lavrava sob meus traços cômicos,
e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes
e condenadas, no solo ardente, porções de minh’alma
nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza sem fruto.

Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva,
colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.
Eu nada te peço a ti, tarde de maio,
senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,
sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de
converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém
que, precisamente, volve o rosto, e passa…
Outono é a estação em que ocorrem tais crises,
e em maio, tantas vezes, morremos.

Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera,
já então espectrais sob o aveludado da casca,
trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres
com que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carro
fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,
sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.

E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstito
lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.
Nem houve testemunha.

Não há nunca testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.
Quem reconhece o drama, quando se precipita sem máscaras?
Se morro de amor, todos o ignoram
e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.
O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;
não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória
das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,
perdida no ar, por que melhor se conserve,
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens.
(Drummond)

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Quero misturar o meu café no seu leite
Quero que meu leite seja seu deleite
Quero misturar seu leite no meu calor
E assim vou te devorar
Uma mordidinha de cada vez

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Quando eu morrer
Não quero caixão de madeira de lei
nem quero que nenhuma lei
que não segui
se imponha sobre minha figura paralisada pela rigidez da morte.

Quando eu morrer
só quero uma coisa
que se reúnam ali meus amigos
num bate papo animado sobre nossas histórias
e repitam várias vezes
jaz ali um homem que viveu.

Quando eu morrer
quero todos os meus segredos expostos
por todos aqueles e aquelas que amei
para que costurem um retrato fragmentado
Minha imagem confusa vai sobreviver por um instante
enquanto durar a memória daqueles que falarem sobre mim.

Quando eu morrer
também não quero que falem só bem de mim
dando a impressão de que tombou um santo, ou qualquer espécie de herói
quero que me xinguem, deixem que cuspam em minhas flores fedorentas
exijo essa aparência natural, crua, animalesca, que tanto venero em vida.

Quando eu morrer
quero que o corpo que fui
apodreça e seja abandonado
mas exijo dos meus amores
histórias sobre mim, que gerem gargalhadas e reflexões
não vou sobreviver nem me perpetuar assim, acabarei
mas enquanto vivo, eu sou.

" Sou nada mais que um poeta: amo a todos, ando errante pelo mundo que amo." (Pablo Neruda)
Em qual leite se banhou?
De onde retirou a seda dos seus cabelos?
As pérolas que coroam seu sorriso vem de que profundezas?
Que estrelas roubastes para o lume de teus olhos?
Com que delicadas rosas pintou seus mamilos?
A natureza viceja em suas curvas cheias de pudores
Seu rubor só aumenta o chamado. 
Um relâmpago vermelho
incendiou o lugar onde vivo
desnorteado tropeço
enquanto o diabo me ignora e ri
Mas em minha morte solitária
eu sei
que o fogo que arde em mim
é feito de você.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Pareço aquele campo que espera a chuva que fertiliza
A árida espera embota minhas lágrimas
Que num murmurinho morrem como a água que evapora direto da nascente
Mas alguns lugares são sempre inférteis
Às vezes me acho um deserto

Nada Fica

Nada Fica

Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas —
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada.
Ricardo Reis

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Fora adentro

Nosso amor tá no fora isso já sabemos fora dos padrões sempre fomos fora do tempo normal estamos olhando um pro outro pela janelinha de pixels sempre atrasada sempre quebrada muitas vezes fechada mas quando largamos a janela e nos fazemos porta sabemos que o amor é verdadeiro e nos conforta e nos abraçamos e nos misturamos e nos amarramos um mo outro até ser impossível soltar o nosso fora tem um dentro próprio um lugar bem pequeneninho e especial onde só cabe um e nos fazemos um e nos colocamos lá nesse reino mágico de conversas no lago areia de praia secreta com cachorro alamedas escuras de penumbra e reencontros em estações de trem. Nosso namoro tá fora mas dentro dele tem tudo de bonito.

sábado, 19 de setembro de 2015

Estrela da Manhã



Algumas estrelas ainda brilham cedo pela manhã
Seu brilho cristalino é como o delas
Agradável aos olhos 

Você também é como a brisa fresca
Que faz carinho no meu rosto de manhã

Será que um dia aquela porta estará aberta?
Será que aquela estrela brilha pra mim? 

Algumas coisas não são para se conhecer
Algumas coisas é melhor não saber
Algumas coisas são só pra viver
Só pra viver
Viver só

domingo, 23 de agosto de 2015

A Quimera da Felicidade

(...) do alto de uma montanha, inclinei os olhos a uma das vertentes, e contemplei, durante um tempo largo, ao longe, através de um nevoeiro, uma cousa única. Imagina tu, leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das cousas. Tal era o espectáculo, acerbo e curioso espectáculo. A história do homem e da terra tinha assim uma intensidade que não lhe podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos. Para descrevê-la seria preciso fixar o relâmpago. Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim, - flagelos e delícias, - desde essa cousa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das cousas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, - nada menos que a quimera da felicidade, - ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão. 


Machado de Assis, in 'Memórias Póstumas de Brás Cubas' 

terça-feira, 23 de junho de 2015

Das inseguranças

Perambulo por caminhos estranhos
Arriscados
Cada adolescente é único
Todos os adultos são iguais
Então o que é mesmo
O que é mesmo amadurecer?

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Você é o Deus do meu mundo.

Uma fonte de amor, coragem e proteção
O Deus do meu mundo me deu.
Aqui vivemos isolados,
E a hostil realidade não nos afeta.
Apenas um homem tão poderoso seria capaz
De acabar com tal paz
Esse, o que criou meu mundo.
Estou entregue.

Escrito para mim 10/06/2015.

Estou aqui
sozinho com o diabo

Ah mas vou te contar
houve um tempo em que eu estava sentado
Ah houve um tempo em que eu estava sentado

No capô morno do meu carro
Com a minha gatinha em meus braços
Olhando as estrelas

Minha flor

Vulgar
Quero colher sua inocência
Como quem colhe uma flor no início da primavera

Arrancar sua pétalas
Num bem me quer
E deixá-las cair devagar

Só para depois abandoná-la
D  e  s  p  e  d  a  ç  a  d  a

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Quantas letras me faltam ler?
São tantas letras e o tempo escorre né? Queria saber de tudo.

O mundo de dentro de mim

"O mundo de dentro da gente é maior
Que o mundo de fora da gente"
(André Abujamra)
Voo nas alturas bicos cortando nuvens grasnando em antecipação ao festim sangrento. Abaixo marcha para Oeste a tropa irregular germânica com machados e lanças pousadas nos ombros pisando a terra úmida dos Césares. Quantos calos em carne viva tiveram? Que comiam? Quantos rios atravessaram? Quanto prazer sentiam ao se aliviar da carga e esticar os dedos doloridos para se aquecer na fogueira? Como cada um deles morreu? Quais eram seus nomes?
Do outro lado da Europa, a chama da vela arde, porquê queima? Que sabemos sobre o fogo que se perde na vastidão dos salões de mármore? Quem zelava por seu fogo? Togados de púrpura os eternos Augustos se compadecem de amor pela grande mãe do Cristo. Quantas basílicas, praças, quantos palacetes e castelos, quantas muralhas e embarcações se espraiam pelo horizonte dA Cidade? Quantos romanos falam grego e adoram São Miguel também arcanjo também flamejante?
O que viu o sábio lendo os auspícios nas estrelas do topo de sua torre afastada das luzes de Constantinopla? Que pensaram os sábios monges enquanto esticavam a costa depois de longas horas copiando textos ancestrais? Que pensavam os camponeses limpando suor com seus braços pesados? Óh camponês ancestral, perdoe esses bárbaros, esses reis, esses palacianos e sacerdotes. Óh camponês eterno, quanto lhe devemos afinal?

Provocações

A vida é uma causa perdida
É preciso idolatrar a dúvida
A felicidade é ideia velha
A imitação é a mais difícil das artes
E tantas outras frases de Abujamra!

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Carolina

Ainda vivo naqueles dias
Aqui, estou morto.

Eles comem a nossa poeira
E nós, de que nos alimentamos?

Nossa história é tão bonita
Que chega a ser triste
Mesmo antes de sabermos o final.

Te gosto tanto que estremeço de várias coisas.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Carne ou luz

A pele rasga como papel
A capa de gordura voa como espuma
O musculo se espalha salpicado de farpas de ossos
O sangue jorra em galões, misturado à bile, vômito, fezes e lágrimas
O ar escapa por atalhos no tórax
Exalando um chiado torpe vil imoral irracional
Enquanto o corpo se desfaz e dobra em posições impossíveis e jaz inerte.
Nem consigo olhar.
 
Lá se foi o espírito - suspiro
Lá se foi o que nos anima - alma.
A isso a multidão assiste pasma

Então é isso que somos?
Sabemos que temos carne
Mas pensamos que somos luz, autoimagem
Não pensamos que somos carne
Pois somos carne que pensa
Que é então o pensamento?

domingo, 17 de maio de 2015



Deslizando
Len
tam
ente
                                       sobre um asfalto pintado
de neon.
Estou chegando amor
Hoje faremos algo bom

17/05/2015

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Para Carol



Sua presença na distância
Irradia um brilho longínquo

Não sinto o chão
Estou andando em outro lugar

Passado na parede
Futuro na Janela

Já vivo naquele quartinho que planejamos.