terça-feira, 20 de outubro de 2015

Quando eu morrer
Não quero caixão de madeira de lei
nem quero que nenhuma lei
que não segui
se imponha sobre minha figura paralisada pela rigidez da morte.

Quando eu morrer
só quero uma coisa
que se reúnam ali meus amigos
num bate papo animado sobre nossas histórias
e repitam várias vezes
jaz ali um homem que viveu.

Quando eu morrer
quero todos os meus segredos expostos
por todos aqueles e aquelas que amei
para que costurem um retrato fragmentado
Minha imagem confusa vai sobreviver por um instante
enquanto durar a memória daqueles que falarem sobre mim.

Quando eu morrer
também não quero que falem só bem de mim
dando a impressão de que tombou um santo, ou qualquer espécie de herói
quero que me xinguem, deixem que cuspam em minhas flores fedorentas
exijo essa aparência natural, crua, animalesca, que tanto venero em vida.

Quando eu morrer
quero que o corpo que fui
apodreça e seja abandonado
mas exijo dos meus amores
histórias sobre mim, que gerem gargalhadas e reflexões
não vou sobreviver nem me perpetuar assim, acabarei
mas enquanto vivo, eu sou.

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