Quando consideramos como é vasto e próximo de nós o problema da existência, essa existência ambígua, perturbada, fugidia, semelhante a um sonho - um problema tão grande e tão próximo, que encobre e sobrepõe todos os outros problemas e finalidades logo que tomamos consciência dele - e quando consideramos que todos os homens, com excessão de alguns poucos, não são claramente conscientes desse problema, nem parecem perceber sua existência, mas se preocupam antes com qualquer outro assunto e vivem apenas no dia de hoje sem levar em conta a duração não muito longa de seu futuro pessoal, seja renegando expressamente aquele problema, ou contentando-se em relação a ele com algum sistema da metafísica popular; digo, quando consideramos tudo isso, podemos chegar à conclusão de que o homem só pode ser chamado de ser pensante num sentido muito amplo. Nesse caso, não nos surpreenderá nenhum gesto de irreflexão ou tolice, pois saberemos que o horizonte intelectual do homem normal pode até ultrapassar o do animal - cuja existência sem nenhuma consiência do futuro e do passado, é inteiramente presente -, mas não está tão distante deste quanto se supõe.
- Schopenhauer. A arte de escrever. Porto Alegre:L&PM, 2010. p. 53-54
- Schopenhauer. A arte de escrever. Porto Alegre:L&PM, 2010. p. 53-54
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