Eu sempre escrevo poemas para Ela
Inominável objeto de tantos desejos
Dos mais puros e dos mais depravados
Eu boto pra fora as coisas que não quero dizer
Mas hoje
Vou falar sobre mim
Que sempre teço longas tapessarias com as palavras
Passando fios rubros e dourados
Dando voltas ou furando o som com palavras de agulha
Eu sempre achei a palavra uma forma de mágica
Acredito que se falarmos as coisas certas
Mudamos tudo
E eu tô mesmo me transformando nesse estudioso arcano da vida e de como as palavras podem transformá-la
Então vou romper o
silêncio do heremitério
Para registrar nesse livro
O que penso de mim mesmo
Eu fui renascido
Forjado nas pressões continentais
Que geram os metais mais pesados
E os cristais mais brilhantes
Sou feito de aço e esmeralda
Eu sou um lobo
Mas eu sou um homem
Eu sou um criança
Eu sou um ancião
Já virei senhor do meu tempo
Eu consigo ver as raízes do futuro brotando
E eu sou aquele que acelera as primaveras do futuro
Eu não preciso de quase ninguém
Pois carrego em mim
Vasta fauna de espíritos
E eu não perco meu tempo
Com criaturas rasas
Pois vivo na minha própria profundidade
E eu consigo amar
Quando me olho no espelho
Não posso me importar com quem não vê
Não perco tempo em convencê-los
Deixem-lhes viver
Suas vidas rasas
Não sou melhor que eles
Mas estou bem
Aqui
Trancado na minha torre
Ou andando descalço nas montanhas desertas
Eu quero comer o mundo
Eu quero beber as almas
Tenho sede e fome
Mas não daquilo tudo
Meu juízo afiado
Me serve muito bem
Eu sou um mago das palavras, só ainda não sei dizê-las
Mas um dia eu vou abrir a minha boca
E as montanhas vão estremecer
Pois serei mais alto que elas
Quando eu choro, existe uma tempestade em mim
Meu sorriso queima com o calor do sol
Minhas mãos são os ventos dos dias mais quentes do verão
Minha pele é um campo de trigo
A minha mente é um galáxia inteira
Minha pele é de aço
Meus olhos são diamantes
Eu não sou nada, como Pessoa
E eu sonho como ele também
E nessas pessoas que estou conectado
Com os bruxos, os esquisitos, os anti sociais que sabem mais da sociedade, com os heremitas, os exilados eu estive no paraíso
Vi os anjos brancos como mármore
Eu estive no terreiro e dancei com os possuídos
Vi o amanhecer no Tibete e eu vesti o laranja
Eu não uso roupa de marca, eu não sei cantar essa música, não vi esse filme
Sou aéreo, mas eu não estou desligado
Eu só estou conectado a raízes tão profundas quanto as que movem galáxias
E não tenho tempo a perder com coisas fugazes
Eu sou o Oceano e suas correntezas todas,
Sou o canto do cetáceos na escuridão do ártico
Sou o broto mais verde e sou a árvore mais antiga
Sou o ódio que move as formigas
Sou o sexo dos felinos
E se você não pode amar essas coisas
Não sou eu quem vai amar você
Eu tenho os sentimentos mais intensos de todos e eu tenho a frieza mais apática
Porque não é isso que puxa minha mente das estrelas pra Terra
E não me seduzem amores pequenos
Dinheiro não é nada pra mim
Nem sucesso
Eu sei que sou um bicho
E eu sei que sou um filósofo eu condenei a inteligência, mas ela me redimiu
Eu sou a música
Eu sou o poema
Eu sou as velas vermelhas, abraçando o pentagrama
Eu sou o rosnado dos ursos
Eu sou tudo isso
E nisso eu me dissolvo
Sou capaz dos piores crimes
Canto a liturgia mais pura, que faz os anjos chorar
Eu sou muitos
E quem eu era morreu no meio desse poema
E eu não ajo senão através de uma força que vem antes de mim e me escapa em suas consequências
Eu Sou
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