sábado, 4 de novembro de 2017

Eu sou a rua

Ando de chinelos na chuva
ouço o murmúrio dos mendicantes
me penduro no ônibus
sou seguido à noite e aperto o passo
meu sofrimento é mais real
porque ele está de cara com o mundo
o mundo de verdade
das putas dos maconheiros

perdido em mim mesmo
nessa imensidão e vazio
eu não sei o que quero
nem o que posso querer
procurando em mim mesmo
um fio de luz
que eu possa amar

e como? como me realizar?
existe potencial
existe mérito
existe algo de bom 
nesse corpo que envelhece acelerado
e fica pasmo
diante da vida e da morte?

quantas coxas abrigaram meu calor
quantas alma penadas eu penalizei
como suportar a dor
que eu mesmo causei
e como não castigar
esse demônio que eu sou?

o que me resta?
para onde eu vou?
a espera de um anjo salvador

de joelhos machucados
curvado
chorando
de olhos cerrados
em pesadas pálpebras
como te verei
como ouvirei teus sussurros
no barulho pesado do pranto na chuva?

onde é meu lar?
onde é meu lar?
onde será que terei pouso manso?
onde será que vou chegar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário