domingo, 1 de outubro de 2017

"O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam.", Grande Sertão: Veredas

Deuses Mortos

Eu sinto o sussurro dos deuses mortos
suas runas nos ventos
e nas árvores
nas imensidões longínquas
das alvas brumas enevoadas
e do esquecimento

No cristal de gelo que dança no ar
Nos olhos famintos do lobo trêmulo
cujo pelo negro eriçado
contrasta com a brancura de morte
do inverno no Norte

Ouço os berros dos homens sem esperança
que queimam como porcos
Onde o farfalhar indiferente das árvores
é a risada muda
dos deuses sedentos
pelo vapor com cheiro de sangue
sangue viscoso e morno
que escorre pelo tempo
para calar fantasmas

O próprio caolho
que bebeu da fonte e agarrou a chave
verá depois de tanto adiar
que esse dia tem mesmo que chegar

E quando a noite cair
quando o fogo vier
será o tempo da serpente e do lobo
será o tempo do fogo

E nas cinzas e nos escombros do mundo
despertará nosso rebento desnudo
para vislumbrar nossa realidade em semente

http://absolutnaproznia.bandcamp.com/album/surtr-the-j-tunn-scathe-of-branches